‘Jamais esquecerei do medo de como ele ia chegar em casa, bem ou violento’: vítima de violência doméstica relata traumas durante Agosto Lilás


Violência contra mulher: como pedir ajuda
“Jamais esquecerei dos socos na parede, das palavras depreciativas, dos atos de me deixar trancada, do medo de como ele ia chegar em casa: bem ou violento, bêbado ou sóbrio, se iria ter discussão, se iria partir para a violência”, o relato é da professora Samara Melão, de 43 anos, moradora de Teresina (PI) e vítima de uma série de agressões do ex-companheiro por mais de dois anos.
No período da campanha “Agosto Lilás”, que promove a conscientização pelo fim da violência contra a mulher, o g1 conversou com Samara, que foi agredida, ameaçada e, em 2019, teve a casa queimada pelo ex-companheiro após uma discussão em que pediu a separação.
A campanha “Agosto Lilás” faz referência ao aniversário da Lei Maria da Penha, instituída em 7 de agosto de 2006.
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Mais de cinco anos após o fim do relacionamento, Samara mantém uma medida protetiva contra o ex-companheiro e segue em disputa judicial por pensão alimentícia e pela guarda do filho do ex-casal, de 6 anos.
A professora alerta para o ciclo de violência e conta que primeiro foi vítima de agressões morais, a partir do controle do comportamento, ofensas verbais e humilhações, até ser fisicamente agredida.
“Começou com a frase ‘mulher minha não usa roupa assim’, sobre uma saia que eu costumava usar antes de conhecer ele. Na primeira agressão física, eu estava grávida de dois meses. Foi um período tão perturbador que ainda hoje me pego pensando seriamente se sou incapaz, inútil, feia”, disse.
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A violência gerou traumas e resultou em prejuízos à saúde mental de Samara.
“Tenho medo de pegar um carro por aplicativo e o motorista ser um amigo dele. Tenho pavor de encontrá-lo em algum lugar e por isso não saio de casa sozinha. Mudei muito meu pensamento sobre relacionamento por medo de passar por tudo de novo”, contou.
Ela reconstruiu a casa incendiada pelo ex-companheiro, mas não conseguiu voltar a morar no imóvel e atualmente está na casa da mãe.
“Meu pequeno é minha força diária. Ele dorme comigo, sempre ao meu lado. Hoje estamos morando na casa da minha mãe, ainda faço terapia, tomo medicação indicada por psiquiatra e faço acompanhamento mensal, para ser a mãe e pai que ele precisa, já que ele tem só a mim”, relatou.
“Já consegui estudar novamente, mas não gosto de ficar em lugares movimentados ou barulhentos, meu sistema de alerta não para”, completou.
Agora, a vítima de violência doméstica encoraja outras mulheres a denunciarem o crime.
“Não tenham medo de denunciar. Eu passei anos acreditando no que ele dizia e ainda carrego comigo as marcas do que vivi. Vocês sempre deram suficiente e não precisam sofrer para viver. Acredito que haja algo muito melhor nos esperando”, concluiu.
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Samara Melão reconstruiu casa que foi incendiada pelo ex-companheiro
Reprodução
SSP lança cartilha para fortalecer combate à violência contra a mulher
Na quinta-feira (21), a Secretaria da Segurança Pública do Piauí (SSP-PI) lançou a cartilha “Você Denuncia, O Estado Acolhe”, que reúne informações sobre canais de denúncia, procedimentos e direitos das vítimas de violência contra a mulher.
CLIQUE AQUI E CONFIRA A CARTILHA.
A iniciativa é uma parceria com a Defensoria Pública do Estado, o Tribunal de Justiça e a Secretaria das Mulheres (Sempi).
Como denunciar
O g1 listou os canais de ajuda que a população pode acionar para denunciar casos de violência doméstica.
Se a ocorrência estiver em andamento, é necessário acionar o 190, da Polícia Militar do Piauí.
Se a violência já aconteceu, a vítima pode:
Ligar para o número 180, da Central de Atendimento à Mulher, do Governo Federal.
Acionar o “Ei, mermã! Não se cale!”, protocolo de de atendimento emergencial para mulheres em situação de violência no estado, por meio do WhatsApp 24h: 0800-000-1673.
Acionar a Secretaria da Mulher, que disponibilizou o contato (86) 9 99432-6900.
Buscar apoio no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) ou Delegacias de Polícia.
Também é possível registrar uma ocorrência e pedir medida protetiva pela Delegacia Online.
Em Teresina, a Guarda Maria da Penha disponibiliza o 153 para ligação. Na capital, procure também a Central de Flagrantes, localizada na Rua Coelho de Resende, no Centro (Sul), para registrar um boletim de ocorrência, ou a Casa da Mulher Brasileira, localizada na Avenida Roraima, número 2563, no bairro Aeroporto.
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