Fed diz que Lisa Cook e diretores só podem ser afastados ‘por justa causa’


Diretora do Fed diz que não vai deixar o cargo após ser demitida por Trump
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, se manifestou nesta terça-feira (26) sobre a demissão da economista Lisa Cook, membro do conselho de governadores da instituição, anunciada na segunda-feira pelo presidente Donald Trump.
Em nota oficial, a instituição ressaltou que os diretores do Fed têm mandatos longos e fixos, e só podem ser afastados pelo presidente dos EUA “por justa causa”, conforme estabelece o Federal Reserve Act — a lei de 1913 que criou o banco central americano.
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Segundo o comunicado, essas garantias legais são consideradas salvaguardas essenciais para preservar a independência da política monetária.
“Mandatos prolongados e proteções contra demissões arbitrárias asseguram que as decisões do Fed sejam baseadas em dados, análise econômica e nos interesses de longo prazo do povo americano”, afirmou o Fed.
A nota também informa que Lisa Cook, por meio de seu advogado, pretende contestar judicialmente qualquer tentativa de afastá-la. O Fed afirmou que continuará exercendo suas funções conforme previsto em lei e que, como de costume, respeitará qualquer decisão judicial.
A manifestação ocorre em meio a tensões entre a Casa Branca e o banco central. Trump tem intensificado ataques à instituição, que atua de forma independente, em tentativas de pressionar por uma redução na taxa básica de juros do país.

Ataques de Trump ao Fed
Trump anunciou pelas redes sociais, na segunda-feira (25), a demissão de Lisa Cook. Em uma carta direcionada à diretora do Fed, ele mencionou acusações ligadas a hipotecas e declarou não confiar na integridade da economista.
Para justificar o afastamento, Trump utilizou um dispositivo da lei de criação do Fed que autorizaria a demissão de membros do conselho “por justa causa”. Segundo ele, Cook teria cometido fraude hipotecária ao declarar duas residências como principais para obter melhores condições de financiamento.
A legislação do Fed estabelece que o presidente dos EUA não tem autoridade direta para demitir membros do Conselho sem comprovação de falta grave. A decisão, inédita, amplia a ofensiva do republicano contra a independência do banco central americano.
Em nota divulgada na noite de ontem por meio de seu advogado, Cook declarou que “não há motivo legal” para sua demissão e garantiu que não vai renunciar.
“O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”, diz o comunicado.
Segundo o advogado de Cook, serão adotadas todas as medidas legais para barrar a demissão da dirigente do Fed, classificada por ele como ilegal. “Não vou renunciar. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022.”
O caso foi encaminhado ao Departamento de Justiça para investigação.
Decisão é inédita
A demissão de um membro do conselho de governadores do Fed por decisão direta do presidente é inédita. O Fed foi estruturado para proteger a política monetária de pressões políticas.
Seus integrantes têm mandatos longos e escalonados, não podem ser autoridades eleitas nem membros do Executivo — o que garante estabilidade e continuidade nas decisões econômicas.
O Fed também não depende do orçamento do Congresso e não submete suas decisões ao aval do presidente ou do Legislativo.
Essa independência assegura que o banco central atue com foco em metas de longo prazo, como pleno emprego e estabilidade de preços, sem ceder a interesses eleitorais ou imediatistas.
Lisa Cook, diretora do Fed.
reuters

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