Número de pinguins mortos em praias do litoral de SP cresce; mais de 880 foram encontrados


Biólogos e veterinários investigam o que pode ter causado a morte de mais de 700 pinguins na praias do litoral de SP
O número de pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) encontrados mortos em praias do litoral sul de São Paulo chegou a 882 nesta terça-feira (26), quando foram encontrados mais 39 animais. De acordo com o Instituto de Pesquisas Cananéia (Ipec), as aves estão encalhando em estado cada vez mais deteriorado.
O registro dos animais passou a ser feito no último dia 15, quando houve um encalhe em massa de pinguins em avançado estado de decomposição nas praias de Iguape, Cananéia e Ilha Comprida. Ainda segundo o Ipec, mais de 100 aves encalharam por dia na região durante a última semana. Uma delas foi encontrada com vida e passa por tratamento.
Desde o último domingo (24), segundo o instituto, os animais passaram a ser classificados em código 5, ou seja, carcaça mumificada ou restos de esqueleto. O monitoramento ocorrerá diariamente até dezembro.
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Número de pinguins mortos passa de 800 no litoral de SP; entenda o fenômeno
Rinaldo Rori/g1
O que foi realizado? 🐧
De acordo com o IPec, os animais encontrados mortos passaram por exame biométrico e registro técnico, com coleta de medidas e peso do animal, além de informações sobre as condições, local e horário da localização.
“Só retiramos da praia e levamos para nossa base animais debilitados ou frescos (morte recente, em que ainda temos material para avaliar e chegar a uma causa da morte)”, destacou anteriormente o Ipec, em nota.
Em seguida, eles serão enterrados no mesmo dia e local onde foram localizados, conforme prevê a legislação. Os dados dos encalhes são lançados no Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquática (Simba), da Petrobrás, onde ficam à disposição da comunidade científica.
Exames 🔍
Ainda segundo o Ipec, os animais encontrados em avançado estágio de decomposição – que são a grande maioria – não vão passar por necrópsia, exame capaz de identificar a causa do óbito.
De acordo com o Projeto Executivo do PMP-BS, estão previstos três tipos de exames para animais em estado avançado de decomposição – isto é, nos casos em que as condições de preservação de carcaça estejam adequadas.
Necropsia;
Triagem de conteúdo gastrointestinal;
Análise osteológica (quando houver suspeita de lesões ou deformidades osteocartilaginosas).
Encalhe em massa de pinguins registrado em agosto de 2025
Ayrton Soares
Em casos de encalhe em massa, deve ser feita a amostragem de 20 animais mais 10% do total para análise histopatológica [estudo de alterações em tecidos e células causadas por doenças] e triagem detalhada do conteúdo gastrointestinal, desde que existam condições para que sejam avaliados.
A seleção só não se aplica no caso de animais oleados, ou seja, contaminados com óleo. Ainda segundo o IPec, nenhum dos animais encontrados no litoral sul estava contaminado com óleo.
Possíveis causas ⁉️
Ao g1, especialistas ouvidos pontuaram que os pinguins parecem ser jovens e também podem ter sofrido influência de fatores como:
falta de alimento
interferência humana
interação com redes de pesca
O biólogo Alex Ribeiro destacou que os encalhes podem estar relacionados com a juventude dos animais – que aparentam ser jovens devido à falta de coloração definida. “Às vezes, na primeira viagem, não estão muito bem orientados, e acabam se perdendo”, disse.
Ele pontuou que os animais podem ter se aproximado demais das praias, ficando à deriva no mar e sem alimentos. Isso também pode ter ocorrido, ainda segundo ele, devido à influência humana.
Pinguins foram encontrados mortos em Ilha Comprida (SP)
Rinaldo Rori/TV Tribuna
“Se os animais estão sujos de óleo ou se ingeriram lixo de alguma forma”, destacou Alex. O especialista disse, no entanto, que a causa real da morte depende da análise necroscópica do animal.
Já o biólogo William Rodriguez Schepis destacou a possibilidade de interação com redes de pesca. “É um animal que não tem mercado, não tem valor econômico, então ele [pescador] já descarta no mar”, disse.
Alex pontuou que, mesmo com o alto número de exemplares, o caso pode se enquadrar no contexto da seleção natural. Na Patagônia argentina, região nativa da espécie, ele disse que podem ser encontrados mais de 1 milhão de pinguins.
William, porém, destacou que não é comum a aparição de uma grande quantidade em curto espaço de tempo. “É um número expressivo. Uma quantidade bem grande, num período bem curto de tempo. Precisa estar fazendo uma análise mais aprofundada com as carcaças dos pinguins”, disse.
Espécie 🐧
A aparição em um curto espaço de tempo também está relacionada ao período migratório do animal, quando deixam suas colônias na Patagônia argentina e nadam rumo ao norte, passando pelo Uruguai e chegando ao Sul e Sudeste do Brasil.
De acordo com Alex, a migração da espécie ocorre por meio da Corrente Tropical do Atlântico Sul, que eles utilizam em busca de alimentos. O período de migração da espécie ocorre entre os meses de junho e setembro.
“Como a viagem é muito longa, muitos chegam fracos, debilitados, não conseguem se alimentar o suficiente para fazer a viagem toda e acabam morrendo. Muitas vezes morrem em alto mar ou chegam bem fracos, bem debilitados na praia. Morrem na praia ou acabam sendo resgatados por grupos que fazem monitoramento de praia”, conta Alex.
O biólogo Rafael Santos disse, ainda, que as águas do Sudeste – principalmente ao norte – não oferecem a alimentação necessária para todos os pinguins, que costumam migrar em grupos de 10 a 15 mil animais.
“Tanto que a maioria que encalha tem características muito parecidas: São animais que estão magros e a grande maioria é filhote”, explica.
Conheça espécie e percurso de pinguins que chegam a SC
Ben Ami/NSC
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