
‘Até quando?’ Saiba como pedir socorro em casos de violência doméstica
Uma pesquisa feita com mulheres assistidas pelo Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM) de Queimados, da secretaria estadual da Mulher, apontou alguns fatores que deixam as mulheres mais vulneráveis em relações abusivas e violentas.
O estudo, conduzido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), analisou os impactos da dependência emocional.
Os dados sobre a vulnerabilidade em relações violentas apontam que 30% das mulheres justificaram por solidão, outras 24% acreditam que a dependência do parceiro e 18% das entrevistadas acreditam que a baixa autoestima influencia.
Já os principais elementos que mantêm a permanência nesses relacionamentos são a dependência emocional (25%), a vergonha, majoritariamente reforçada por crenças religiosas (21%), e a preservação da família em função dos filhos (17%).
O estudo também aponta que a violência perdura por gerações: 52% das participantes relataram que ao menos uma mulher da família sofreu violência e 48% delas já haviam vivenciado violência por parceiro íntimo em outros relacionamentos.
Esse histórico contribui especialmente para sentimentos de desconexão e rejeição (73,33%), super vigilância e inibição (66,66%).
“Os resultados confirmam a importância da rede integrada de proteção à mulher e o papel fundamental dos centros especializados, que oferecem acolhimento psicológico, social, jurídico e, sobretudo, esperança e oportunidade de recomeço”, afirma a secretária de Estado da Mulher, Heloisa Aguiar.
As consequências emocionais e psicológicas dessas violências mais recorrentes na pesquisa foram a auto culpabilização (38%), a desesperança (31%) e os danos psicológicos (31%).
Entre as reações comportamentais, prevaleceram o choro (40%) e o isolamento (35%).
Segundo a pesquisa, a maioria das mulheres encontrou apoio para romper o ciclo da violência principalmente por meio da rede de acolhimento (73%), seguida por organismos de enfrentamento e combate à violência, como polícias e órgãos de assistência (20%).
Para a pesquisadora responsável, Elisângela Cunha, os resultados do estudo desenvolvido em seu mestrado no Laboratório de Estudos sobre Violência contra Crianças e Adolescentes da UFRRJ reforçam a relevância dos equipamentos especializados.
“Constatamos que a dependência emocional atua como um padrão dentro do ciclo da violência. Isso evidencia o papel essencial de espaços como o CEAM no processo de acolhimento e transformação da vida das mulheres”, afirma Cunha.
A pesquisa foi realizada com base em uma metodologia qualitativa e quantitativa, envolvendo 15 mulheres em 45 encontros. As mulheres tinham a partir de 18 anos, sofreram violência psicológica e foram atendidas no CEAM Queimados.
Pintando recomeços
Secretaria da Mulher faz oficina de pintura com vítimas de violência
Divulgação/Fernanda Sabença
Uma das ações realizadas no acolhimento dessas mulheres foram oficinas de pintura conduzidas pela professora e artista plástica Fernanda Brandão, entre maio e julho deste ano, e tiveram como objetivo promover bem-estar e fortalecer a autoestima de mulheres em situação de violência.
A atividade fez parte da programação promovida pela Secretaria nas três unidades de referência do Governo do Estado, o Centro Integrado de Atendimento à Mulher Márcia Lyra, no Centro do Rio; o CIAM Baixada, em Nova Iguaçu; e o CEAM Queimados.
A iniciativa gerou uma exposição dos trabalhos produzidos, realizada nesta quinta-feira (28), com a presença da atriz Patrícia Ramos.
“Nunca tinha pintado nada antes. Mas essa é a casa dos meus sonhos. Ainda não é a que eu tenho, mas é a que desejo: limpinha, cheirosa, do meu jeitinho”, contou Ana (nome fictício), emocionada ao apresentar sua primeira tela durante a oficina de pintura acrílica sobre tela.
A obra, que retrata uma casa e uma árvore, simboliza seu recomeço após anos de violência doméstica.
Secretaria da Mulher faz oficina de pintura com vítimas de violência
Divulgação/Fernanda Sabença
Maria (nome fictício) também participou das oficinas e contou que precisou se afastar do mercado de trabalho em função da violência psicológica praticada pelo marido.
“No CIAM, eu fui acolhida logo no primeiro dia e encaminhada para atendimento psicológico. Aqui, encontrei um lugar que realmente funciona e se importa. Vim para a oficina de pintura em busca de conhecimento e saio com vontade de transformar isso em oportunidade”, afirma.
Rede de proteção
O Governo do Estado dispõe de uma rede de proteção e acolhimento formada por três Centros Especializados de Atendimento à Mulher (CIAMs e CEAMs).
As unidades da SEM-RJ, localizadas no Centro do Rio, em Queimados e em Nova Iguaçu, oferecem atendimentos psicológico, social e jurídico, além de ações de capacitação profissional, geração de renda e fortalecimento da autonomia.
Em 2024, os centros especializados realizaram 11 mil atendimentos, oferecendo apoio integral a mulheres em situação de violência física, sexual, moral, psicológica ou patrimonial. No primeiro semestre deste ano, já foram 7.085 atendimentos.
Essa rede de enfrentamento também conta com 14 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), um abrigo sigiloso, 47 equipes da Patrulha Maria da Penha, além de UPAs e hospitais estaduais com equipes capacitadas para acolher vítimas de violência.
Todos os endereços, incluindo os dos 50 centros especializados municipais que existem no estado do Rio, podem ser consultados no aplicativo gratuito para celular Rede Mulher e no site www.secmulher.rj.gov.br .
Endereços das unidades estaduais
CIAM Márcia Lyra
Rua Regente Feijó, 15 – Centro, Rio de Janeiro
CEAM Queimados
Rua Odilon Braga, 26 – Queimados, RJ
CIAM Baixada
Rua Coronel Bernardino de Melo, s/nº, 4º andar – Centro, Nova Iguaçu