
Menino autista (à esq.) foi agredido perto de escola após defender o irmão (à dir.) que estava sendo vítima de bullying em Praia Grande, SP
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Um menino de 9 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), foi agredido por cerca de 20 estudantes próximo à Escola Municipal Professora Maria Clotilde Lopes Comitre Rigo, em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Segundo a mãe, Pamela Aparecida, o filho contou que, enquanto apanhava, pediu a Deus para que alguém aparecesse e o ajudasse.
“Como a gente é evangélico, ele me falou: ‘mãe, quando ele [agressor] me deu um chuto e falou para eu não levantar, eu fiquei no chão só pedindo para Deus para aparecer alguém’. Eu creio que Deus guardou ele [para mim]”, disse Pamela ao g1.
O caso aconteceu na última sexta-feira (22), quando o menino chegava à escola acompanhado do irmão mais velho, de 11 anos, e de outro mais novo. O mais velho foi alvo de bullying por conta do peso, e o menino autista tentou defendê-lo. Foi nesse momento que as agressões começaram.
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De acordo com o boletim de ocorrência (BO), enquanto o menino era agredido, o irmão mais novo correu para pedir ajuda, e o mais velho foi ameaçado para não interferir. A mãe relatou que os agressores formaram uma roda em volta dos irmãos e que um dos estudantes chegou a pegar um bloco de concreto para atingir a cabeça do filho.
Foi ajudado
Uma mulher que passava pelo local para buscar a filha na mesma escola viu a cena e interveio. Ela conseguiu retirar os irmãos da confusão e os conduziu até o trabalho de Pamela, que levou o filho à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Samambaia. Apesar de não apresentar hematomas, o menino precisou de atendimento médico por dores e abalo emocional.
Pamela contou que os filhos nunca receberam advertências ou reclamações por mau comportamento. “Ele já trocou de escola e agora que está desenvolvendo no aprendizado por conta do Transtorno do Espectro Autista.”
Ela acredita que a mulher que ajudou os filhos foi enviada por Deus. “Sou muito grata a ela por isso. Na hora do nervoso, esqueci de perguntar o nome dela, como estava no trabalho. Ela só foi lá, fez o bem sem olhar a quem, tirou meu filho de lá e levou para mim. Preciso muito agradecer a ela, o que ela fez foi de Deus.”
Trauma psicológico
Menino autista foi agredido perto de escola após defender o irmão que estava sendo vítima de bullying em Praia Grande, SP
Arquivo Pessoal
Pamela contou ao g1 que o filho relatou que mais de 20 estudantes fizeram uma roda ao redor dele e do irmão e o agrediram. A mulher contou que, inicialmente, a escola não ofereceu ajuda, mas ao perceber que Pamela não se calaria, resolveu se manifestar.
“[É um] trauma muito grande, tanto psicológico quanto emocional para meus filhos e para mim também. Me sinto de mãos atadas, vejo que não tem acontecido só comigo.”
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi registrado como lesão corporal pelo 3° Distrito Policial da cidade, que realiza diligências para esclarecer os fatos e identificar os autores.
Menino autista foi agredido perto de escola após defender o irmão que estava sendo vítima de bullying em Praia Grande, SP
Arquivo Pessoal
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande, por meio da Secretaria de Educação, informou que tomou ciência dos fatos pela equipe da escola, e que a ocorrência aconteceu antes da entrada da criança na unidade escolar.
A prefeitura afirmou que, diferente do alegado, a responsável foi devidamente atendida na escola e os fatos foram apurados junto aos alunos envolvidos, que foram identificados pela própria vítima. A equipe gestora comunicou à responsável as providências que seriam adotadas.
Segundo a administração municipal, o relatório foi enviado ao Conselho Tutelar, os alunos envolvidos foram encaminhados a serviços públicos de apoio, e o Conselho de Escola foi acionado para analisar possível infração às normas de convivência da unidade.
A prefeitura reforçou que as escolas municipais desenvolvem ações educacionais em razão do Protocolo Antibullying, sendo o tema amplamente discutido com alunos e comunidade.
Podcast debate o bullying
A presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seção Santos, Simone Caetano Fernandes, participou do podcast Baixada em Pauta e falou sobre o combate ao bullying nas escolas, reforçando a importância do papel da família no processo de reconhecimento, amparo e educação dos estudantes.
O tema é um debate que se tornou recorrente no dia a dia do país e da região, principalmente após o caso do menino Carlinhos, um adolescente de 13 anos que morreu após ser agredido pelas costas por dois estudantes em uma escola de Praia Grande em abril do ano passado.
Baixada em Pauta aborda o bullying com representante da OAB-Santos
VÍDEO: g1 em 1 Minuto Santos