
Thays Brandão diz que filha de 11 anos morreu 9 dias após ter dor de cabeça, sono, falta de apetite, desmaio, infecção urinária e 13 paradas cardíacas. Médicos suspeitaram de dengue e tumor no cérebro,
deram remédios e entubaram menina, que teve morte encefálica na sexta. Millena Brandão tinha 11 anos. Na foto acima ela aparece ao lado da irmã caçula e dos pais, Luiz e Thays Brandão
Divulgação/Arquivo pessoal
“Ainda não sabemos o que a matou. Ficou um ponto de interrogação”, disse a autônoma Thays Brandão, de 37 anos, sobre a dúvida que ela e o marido, Luiz Brandão, de 35, continuam a ter a respeito do que poderia ter colocado um fim à vida da filha deles.
Os dois eram pais da atriz mirim Millena Brandão, que morreu aos 11 anos na sexta-feira (2), após se sentir mal e passar por três unidades de saúde em São Paulo. O casal criticou os atendimentos que a paciente teve nesses locais. “Os médicos ainda não disseram o que realmente minha filha teve e o que a matou”, falou Thays, que tem mais uma filha de 2 anos com o marido.
Por meio de notas, as Secretarias da Saúde municipal e estadual informaram que vão apurar se ocorreu alguma irregularidade por parte dos funcionários e/ou equipes médicas que atenderam Millena. As pastas não responderam ao g1 qual problema de saúde Millena tinha nem, qual foi causa de sua morte (saiba mais abaixo).
Millena Brandão posa na frente do SBT
Reprodução/Arquivo pessoal
A morte dela em São Paulo repercutiu nas redes sociais e na imprensa. Com mais de 180 mil seguidores no Instagram, Millena tinha o desejo de se tornar uma atriz famosa e postava fotos e vídeos de suas atuações e trabalhos também como modelo, interagindo com os fãs.
Ela fazia parte da Cia Artística En’cena e participou de novelas como “A infância de Romeu e Julieta” e “A Caverna Encantada”, do SBT, além da produção da Netflix, “Sintonia”.
Em outubro de 2023, Millena celebrou o início da sua carreira na emissora de Silvio Santos. “E o sonho se tornou realidade… Quem acredita sempre alcança”, escreveu na legenda de uma foto em frente ao logo da emissora.
Millena morreu na sexta-feira (3), nove dias depois de começar a sentir fortes dores na cabeça e na perna, ter sonolência, falta de apetite e desmaiar. Desde a última quinta-feira (24), ela passou por uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) municipal e dois hospitais estaduais.
Veja abaixo a cronologia de idas e vindas de Millena em unidades de saúde até a confirmação de morte encefálica, segundo relato dos pais:
Hospital Geral de Pedreira
A atriz mirim Millena Brandão
Reprodução/Redes sociais
Segundo os pais, Millena estava com dor de cabeça quando foi pela primeira vez ao Hospital Geral de Pedreira, na Zona Sul, que é estadual. “Ela estava com dor de cabeça, mas andava e falava. O médico disse que era dengue, mas não fez exame. Disse para irmos com ela de volta para casa e darmos dipirona”, lembrou Thays.
No sábado (26), a filha iria desfilar num evento, mas voltou a sentir dores. “Começou a se queixar de dor na perna, que não conseguia andar. Ela não desfilou. A gente foi embora de novo para o Hospital Pedreira”, afirmou a mãe. De acordo com Thays, os exames de sangue não apresentaram alterações e Millena foi orientada pela equipe médica a retornar para a residência e repousar.
Quando a família decidiu ir à igreja com Millena no domingo (27), a filha reclamou de dores de cabeça mais fortes, além de sonolência e falta de apetite. Todos voltaram para casa sem participar da celebração religiosa.
UPA Maria Antonieta
Thays, a filha caçula no colo, Luiz e Millena Brandão
Divulgação
Na noite de segunda-feira (28), Millena conseguiu se alimentar, mas desmaiou dentro do banheiro de casa. “Corremos para a UPA Maria Antonieta [também no Grajaú e que é subordina à Secretaria Municipal de Saúde]. Chegamos com ela desacordada nos braços do meu marido. Depois, abriu os olhos e recobrou a consciência”, disse Thays.
De acordo com o casal, os médicos fizeram exames, descartaram dengue e também afastaram a possibilidades de Covid e H1N1. “Deu tudo negativo para essas doenças”, falou a mãe. “Mas disseram que ela estava com infecção urinária.”
Millena tomou antibiótico e novamente dipirona, mas as dores não passavam. “Ela colocava a mão na cabeça e gritava de dor”, contou Thays, emocionada. Devido à gravidade do estado de saúde da criança, a equipe médica decidiu pedir uma vaga para ela na internação de algum hospital na capital.
Thays contou ainda que a equipe médica deu tramal para tentar amenizar dor. “E teve uma enfermeira que zombou dela, falando para minha filha não gritar de dor que não ia passar.”
Na manhã do dia seguinte, a menina teve a primeira parada cardiorrespiratória, segundo a mãe. “O lábio ficou roxo. Depois a reanimaram e entubaram”, lamentou Thays. “A partir desse dia, ela não acordou mais. Ficou sedada.”
Hospital Geral do Grajaú
Millena Brandão tinha 11 anos; ao lado foto do exame onde seta do mouse circundada em vermelho mostra mancha suspeita de ser um tumor no cérebro da atriz, segundo a família
Reprodução/Divulgação
Millena só conseguiu uma transferência de ambulância da UPA para o Hospital Geral do Grajaú na manhã de terça-feira (29).
“Lá não tinha neurologista. Só foi feita uma tomografia e os médicos disseram que viram uma massa de 5 centímetros no cérebro dela”, disse Thays (veja foto acima). “Só que não se sabe se essa massa era um tumor, um cisto, um edema, um coágulo… porque não conseguiram abrir a cabeça dela para ver. E agora, que veio o óbito, vão fazer uma biópsia para saber o que tinha no cérebro dela.”
Esse diagnóstico a fez perceber, segundo Thays, que essa descoberta poderia ter ocorrido antes, quando ela levou a filha para outras unidades de saúde. “Se a UPA tivesse transferido ela para o HC [Hospital das Clínicas], teriam especialistas em neurologia lá. Tanto que o Hospital do Grajaú quis transferi-la para o HC.”
Os dias em que Millena ficou internada foram de martírio e tensão. “Ela teve piora, com duas a três paradas cardíacas por dia. Ela teve 13 paradas no total. Nunca teve isso antes. Teve um dia em que ela teve sete paradas respiratórias. Algumas vezes faziam massagens e em outras davam choque [com o aparelho chamado desfibrilador]”, contou a mãe.
De acordo com Thays, quando uma vaga foi aberta no HC para transferi-la para um especialista em neurologia, os médicos do Hospital Geral do Grajaú avaliaram que seria um risco para a vida dela. “Preferiram deixar para ver se ela estabilizava, pois o simples manuseio no corpo dela a fazia ter paradas cardíacas”, contou a mãe.
Morte encefálica
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Ainda segundo a mãe, como Millena não acordava e seu estado não apresentava melhora, os médicos decidiram dar início ao protocolo para confirmar morte encefálica.
“Desde terça, quando ela foi entubada, não abriu mais os olhos, não teve mais reflexos e não ficou acordada”, disse Thays, com a voz embargada.
“Ontem os médicos fizeram três exames nela, o encefalograma, que constatou a morte cerebral. Eles ainda disseram que iriam esperar o coração dela parar de bater para desligarem os aparelhos”, falou a mãe.
Ela e o marido tomaram uma decisão difícil, mas necessária diante do quadro irreversível da filha. “Eu falei que se fosse para deixar o coraçãozinho dela parar de bater sozinho, a gente sofreria mais, e ela também. E pedimos para desligarem os aparelhos.”
O que diz a Secretaria Municipal da Saúde
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A Secretaria Municipal da Saúde informou que será aberta uma sindicância para apurar a conduta da equipe médica na UPA Maria Antonieta durante o atendimento a Millena.
“A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria Regional da Saúde (CRS) Sul, lamenta profundamente a perda da paciente M.M.B. e informa que será aberta sindicância para apuração e esclarecimento detalhado no atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dona Maria Antonieta.
O atendimento à paciente foi realizado na unidade, às 21h do dia 28 de abril. Conforme protocolo de Manchester, foi classificada com prioridade urgente, sendo encaminhada para observação, realizando exames (como o teste de dengue, que deu negativo) e medicação. Sem apresentar melhora clínica, foi solicitada às 07h59, do dia 29 de abril, a transferência via Sistema Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo (SIRESP).
Após sinalização da equipe para a regulação sobre gravidade do caso, às 10h54, a vaga foi concedida pelo Hospital Geral do Grajaú e a paciente foi transferida. A direção da Unidade permanece à disposição para o que for necessário.”
O que diz a Secretária de Estado da Saúde
A atriz mirim Millena Brandão
Reprodução
A Secretaria de Estado da Saúde informou que o Hospital Geral de Pedreira também irá apurar a conduta de seus funcionários no atendimento à atriz.
“O Hospital Geral de Pedreira lamenta o ocorrido, se solidariza com a família da paciente M.B. e está à disposição para prestar informações sobre o caso. A unidade apurará a conduta médica adotada durante o atendimento.
O hospital informa que, durante a permanência da paciente na unidade, o atendimento, que ocorreu em 26 de abril, foi realizado conforme sua condição clínica. Ela foi avaliada pela pediatra de plantão e medicada de acordo com os sintomas relatados.”
E a respeito do Hospital Geral do Grajaú, a pasta estadual da Saúde informou o seguinte:
“O Hospital Geral do Grajaú informa, com profundo pesar, que foi confirmada, às 16h55 de hoje (02), a morte encefálica da paciente Millena Brandão, que deu entrada nesta unidade em estado gravíssimo no dia 29/04/2025, transferida da Unidade de Pronto Atendimento Maria Antonieta (UPA).
Desde a sua chegada, a paciente recebeu cuidados intensivos e todo o empenho da equipe médica e assistencial, que não mediu esforços para preservar sua vida.
A confirmação do diagnóstico ocorreu após rigoroso cumprimento do protocolo estabelecido para esses casos.
A família esteve acompanhando cada etapa do cuidado, sendo mantida informada com respeito, acolhimento e todo o apoio necessário neste momento de profunda dor.
Nos solidarizamos com os familiares e reafirmamos nosso compromisso com um cuidado digno e humano.”