Após 5 dias internada, grávida e bebê morrem por complicações no parto e família denuncia negligência no AC; unidade nega


Segundo uma sobrinha dela, que acompanhou os dias de internação, hospital deixou que ela ficasse com dores e demorou a fazer o parto. Direção do Hospital da Mulher e da Criança do Juruá afirma que adotou todos os procedimentos devidos. Ana Cleide Cruz morreu após cinco dias internada com bolsa estourada; a bebê que ela esperava também morreu
Reprodução/Internet
A gestante Ana Cleide Cruz, de 39 anos, e a criança que ela esperava morreram após cinco dias de internação no Hospital da Mulher e da Criança do Juruá no município de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, na madrugada dessa terça-feira (20). Segundo a família, a grávida foi negligenciada pelos servidores da unidade. A direção nega.
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Andressa Cruz Vieira, sobrinha de Ana Cleide, acompanhou toda a internação, que começou na quarta-feira (14). A mulher morava no município de Mâncio Lima, vizinho a Cruzeiro do Sul, e procurou atendimento inicialmente lá. Ela foi encaminhada ao hospital na cidade vizinha.
Conforme a sobrinha, a equipe médica não fez o parto imediatamente pois afirmaram que Ana Cleide estava com uma infecção, e que esperariam até o sábado para retirar a criança. Ainda segundo Andressa, a mulher passou todos esses dias sentindo dores que não foram consideradas pelos profissionais que a atenderam.
“Ela disse que estava com dor, que eles disseram que ia tirar sábado (17) a neném. Que ia fazer de tudo para ela aguentar até sábado para tirar. Chegou no sábado, eles disseram que não podia tirar porque ela estava com a infecção. E eles nunca falaram que tipo de infecção que era. Só dizia que era uma infecção grave, mas eles não falaram. Eles vieram falar o nome da infecção depois de noite, que eu acho que você já tem os áudios dela pedindo a direção do hospital que tirasse a neném. Me chamaram no canto, falaram que ela estava com a infecção generalizada. Quer dizer, que ela já estava com tudo inflamado dentro dela”, contou.
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Sobrinha de grávida que morreu em hospital culpa atendimento pela morte
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Ainda conforme Andressa, na madrugada em que Ana Cleide faleceu, a mulher estava com muitas dores e começou a ficar com mãos, pés e lábios roxos, e, mesmo assim, demorou a ser atendida.
Quando finalmente foi atendida por um médico, o profissional afirmou que se o parto não fosse feito naquele mesmo dia, tanto a criança quanto a mulher poderiam morrer. A sobrinha disse que o parto estava previsto para meio-dia, mas Ana Cleide morreu antes disso.
“Na hora que ela estava morrendo, eles estavam fazendo perguntas, as pessoas da minha família que tinham epilepsia, se ela bebia, se fumava, e eu falando com eles que ela estava com a mão roxa, com o pé roxo, estava mordendo os lábios, com muita dor de cabeça. E eu, para mim, naquela hora o médico pensou que ela estava mentindo, que estava se fingindo para tirar a menina, porque eu já tinha passado a noite todinha. Eu acho que ele achava que ela estava mentindo”, relatou.
Ana Cleide teve rompimento da bolsa e morreu junto com a bebê
Reprodução
Direção nega negligência
Andressa Cruz Vieira, sobrinha de Ana Cleide, chorou ao relembrar últimos momentos da tia
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Por meio de nota, a Direção do Hospital da Mulher e da Criança do Juruá lamentou a morte de Ana Cleide e afirmou que adotou todos os procedimentos devidos.
Conforme a gestão da unidade, a paciente deu entrada na maternidade com ruptura prematura da bolsa e um quadro grave de infecção, estando em uma gestação de prematuridade extrema, com 30 semanas.
“Desde o primeiro atendimento, foram adotadas todas as medidas cabíveis para preservar a vida da mãe e do bebê, conforme os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde”, ressaltou o texto assinado pela diretora Iglê Monte.
Família quer justiça
Entretanto, para Andressa, os esclarecimentos não são suficientes, e ela segue acreditando que faltou, principalmente, empatia com o sofrimento da tia. Para ela, houve descaso que levou à morte tanto da gestante quanto da criança.
”Eu me senti mal. Não era para ela ter morrido daquele jeito. Por que não tiraram a neném dela quando ela chegou lá? Se tivesse tirado ela no dia que ela chegou lá com a bolsa rompida, a neném não tinha morrido, nem ela nem a neném. Então, faltou isso [ação da equipe médica]. E a gente quer justiça”, finalizou.
Colaborou o vídeorrepórter Mazinho Rogério, da Rede Amazônica Acre.
Nota da direção
O Hospital da Mulher e da Criança do Juruá lamenta profundamente o falecimento da gestante de 30 semanas atendida na unidade e se solidariza com a família neste momento de dor.
A paciente deu entrada na maternidade com ruptura prematura da bolsa e um quadro grave de infecção, estando em uma gestação de prematuridade extrema, com 30 semanas.
Desde o primeiro atendimento, foram adotadas todas as medidas cabíveis para preservar a vida da mãe e do bebê, conforme os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Reafirmamos que todos os cuidados foram prestados de acordo com as melhores práticas médicas e os protocolos vigentes.
Iglê Monte
Diretora do Hospital da Mulher e da Criança do Juruá
VÍDEOS: g1
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