
Apresentações ocorreram na noite de sábado (28). O Festival Folclórico de Parintins é um dos maiores espetáculos a céu aberto do Brasil e acontece todos os anos na ilha localizada no interior do Amazonas Caprichoso e Garantido durante segunda noite de apresentações do 58º
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O Bumbódromo de Parintins virou palco de mais um espetáculo vibrante e emocionante neste sábado (28), quando Caprichoso e Garantido encantaram o público com suas apresentações na segunda noite do 58º Festival Folclórico de Parintins. O Caprichoso fez uma ‘kizomba’ e exaltou a retomada das tradições. Já o Garantido mostrou que é o verdadeiro patrimônio do povo brasileiro.
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O Festival Folclórico de Parintins é um dos maiores espetáculos a céu aberto do Brasil e acontece todos os anos na ilha localizada no interior do Amazonas. Durante três noites, os bois-bumbás se enfrentam em uma disputa artística que mistura música, dança, alegorias, lendas amazônicas e fortes elementos da cultura indígena e afro-brasileira.
Neste ano, o Caprichoso busca o tetracampeonato com o tema “É tempo de retomada”, enquanto o Garantido sonha em conquistar o 33º título com o tema “Boi do Povo, boi do povão”.
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A Kizomba do Caprichoso
Alegoria do Boi Caprichoso.
Matheus Castro/g1 AM
O Boi Caprichoso deu início à segunda noite do Festival com o espetáculo “Kizomba: Retomada pela Tradição”. O termo significa “festa” no dialeto Kimbundu.
Em uma embarcação azul e branca que invadiu o bumbódromo de Parintins surgiu o Touro Negro da Amazônia, junto ao levantador de toadas Patrick Araújo. Em seguida, o bumbá se apresentou ao som de Malúù Dúdú, toada que exalta a origem negra do boi.
Continuando sua apresentação, o Caprichoso contou a história dos marandoeiros e marandoeiras da Amazônia — figuras típicas regionais que, por meio da oralidade, preservam e transmitem os saberes e histórias do povo da floresta.
Do alto de uma alegoria gigantesca surgiu a sinhazinha da fazenda Valentina Cid, que se transformou em uma vitória-régia no meio do bumbódromo.
Trazendo o pavilhão azul e branco surgiu a porta-estandarte Marcela Marialva. Já o levantador de toadas Patrick Araújo interpretou a toada “Kizomba”, seguido da evolução da vaqueirada conduzida pelo amo Caetano Medeiros.
Na sequência, a arena foi tomada pela celebração indígena que mostrou o enfrentamento entre os povos originários e os militares durante o desbravamento da Amazonia.
Em uma faixa, os indígenas exclamaram: A resposta somos nós. Dentro de um módulo alegórico surgiu a cunhã-poranga Marciele Albuquerque, trazida por uma ‘rasga-mortalha’ que evoluiu ao lado das tribos azuladas.
Cunhã-poranga do Boi Caprichoso, Marciele Albuquerque, na segunda noite de festival.
Matheus Castro/g1 AM
O Caprichoso também contou a lenda indígena de Sacaca Merandolino: O Encantado de Arapiuns. Segundo os mais antigos, Merandolino era uma criatura que inalava o fumegante tauari e mergulhava nas águas do rio Arapiuns, momento em que se transformava em uma serpente encantada que deslizava pelas profundezas dos rios, levando sua sabedoria de cura a outras comunidades.
O conjunto alegórico feito pelo artista Alex Salvador também revelou a Rainha do Folclore azulado Cleise Simas em uma serpente gigantesca que ganhou os céus de Parintins e levou a galera ao delírio.
A releitura da toada ‘Réquiem’ emocionou o público. A canção foi entoada enquanto um módulo alegórico com pajés foi içado por um guindaste durante a evolução coreográfica.
Encerrando a apresentação, o Caprichoso trouxe à arena um forte ritual indígena com foco na retomada dos espíritos Munduruku, como símbolo da resistência dos povos originários e da defesa da vida na floresta.
A apresentação, conduzida pelo pajé Erick Beltrão denunciou a violação do território sagrado desses guerreiros com a construção da hidrelétrica de Teles Pires, uma obra que corrompeu o local de descanso espiritual dos Munduruku, fora das terras demarcadas oficialmente pelo Estado brasileiro.
Alegoria que representa lenda amazônica do Sacaca Merandolino teve serpente gigante no meio da arena do Festival de Parintins.
Matheus Castro/g1 AM
O patrimônio Garantido do povo brasileiro
O Boi Garantido fechou a segunda noite do Festival com o espetáculo “Patrimônios do Brasil”. A apresentação começou com uma ‘invasão’ dos grupos de dança do boi vermelho e branco, que interpretaram diversos ritmos musicais, como o samba e o maracatu.
Em seguida, o apresentador Israel Paulaim puxou a tradicional contagem do bumbá.
O boi surgiu em um coração no primeiro módulo alegórico levando a galera encarnada ao delírio. Ao chegar no chão, o bumbá evoluiu ao lado da vaqueirada.
Boi Garantido na arena do Festival de Parintins.
Matheus Castro/g1 AM
O módulo alegórico também revelou a porta-estandarte Jeveny Mendonça, que veio com uma indumentária representando o maracatu, e a sinhazinha Valentina Coimbra.
O amo do boi, João Paulo Farias, chegou na arena ao lado de Maria Monteverde, filha do criador do boi vermelho e branco, Lindolfo Monteverde.
A lenda da noite foi “A Lendária Epopeia de Tamapú”. Ambientada na era pré-colombiana, narra a paixão do guerreiro Tamapú pela princesa do Palácio dos Ossos, uma mulher com corpo de ave de rapina e filha do Urubu-Rei. Para viver esse amor, Tamapú enfrenta sacrifícios, desafios e criaturas míticas, como carcarás e formigas gigantes. Vitorioso, transforma a dor em coragem.
A princesa abandona sua plumagem e na arena se transforma na cunhã-poranga Isabelle Nogueira. A ex-BBB performou ao lado de um grupo de ‘urubus’. Veja o vídeo abaixo:
Isabelle Nogueira se apresenta durante segunda noite do 58º Festival de Parintins
O Garantido também homenageou as tacacazeiras da Baixa. Para o boi, as mulheres carregam consigo a tradição ancestral do tacacá, prato indígena feito com tucupi e jambu, símbolo de resistência cultural nas ruas e feiras de Parintins.
O ato reverenciou o saber feminino que atravessa gerações, preservando sabores, histórias e identidade e foi conduzido pela Rainha do Folclore, Lívia Cristina.
Encerrando a noite, o Garantido trouxe à arena o Ritual Ajié, da cosmovisão Madija Kulina. Com cânticos, tinturas, rapé e ayahuasca, o pajé Adriano Paketá apresentou o encontro dos povos dos rios Jutaí, Purus e Juruá, celebrando a vida em festa.
O boi se despediu desta segunda noite agradecendo sua torcida ao som das toadas “São Benedito” e “Vermelhou”
Garantido também homenageou as tacacazeiras da Baixa em alegoria no Festival de Parintins.
Matheus Castro/g1 AM
O Festival
A 58ª edição do Festival de Parintins acontece neste fim de semana e coloca em disputa os bois Caprichoso e Garantido, em um dos maiores eventos culturais do Brasil.
A cidade, localizada em uma ilha no Rio Amazonas, na divisa entre Amazonas e Pará, se transforma durante o festival: azul e vermelho tomam as ruas, as casas e o coração do povo.
Neste ano, o Caprichoso apresenta o tema “É tempo de retomada”, exaltando a força dos povos da floresta. Já o Garantido defende o tema “Boi do povo, boi do povão”, celebrando suas raízes populares.
As apresentações acontecem no Bumbódromo, com alegorias, toadas e encenações que celebram a cultura amazônica. Enquanto o Caprichoso busca o tetracampeonato, o Garantido quer voltar a vencer e conquistar seu 33º título.
A apuração ocorre na segunda-feira (30), quando será conhecido o grande campeão do festival. Ao todo, 21 itens — equivalente a quesitos — serão avaliados por dez jurados.
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