
Restaurantes, lanchonetes, mercados e lojas pagavam um ‘salário’ para os PMs pelo ‘serviço’. Grupo foi alvo de operação do MP nesta terça – 9 foram presos. Áudio indica que comerciantes que pagavam por segurança irregular de PMs na Baixada reclamavam quando não eram atendidos
Um áudio que consta nas investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre PMs que recebiam dinheiro na Baixada Fluminense para fazer segurança irregular durante o horário de trabalho mostra que comerciantes reclamavam quando não eram atendidos pelos policiais.
Na gravação, um investigado encaminha áudio no qual há uma reclamação oriunda da loja de materiais de construções, cujos representantes não estariam satisfeitos com o resultado da “merenda” – propina – que era paga ao setor.
“Eu cheguei aqui na loja agora, né. Viatura passou hoje, nem saíram [da viatura], né, irmão? Manobraram aqui, pá, e saíram. Não estou cobrando, o Silva Santos. Igual eu te falei. A gente tem um acordo. Briguei para ter uma ‘merendinha’ aí para vocês, irmão, é só passar, fala com a galera, toma uma água, vai lá para o gerente ver a cara de vocês, pá. Entendeu irmão? Se não, vai ficar essa cobrança aí. Po, os caras quase não vem e tal”, diz o áudio.
A investigação mostrou, segundo o MP, que os policiais militares recebiam um pagamento mensal de comerciantes que chamavam de “padrinhos” para fazer segurança específica para o estabelecimento deles durante o horário de trabalho.
O grupo de 11 policiais militares alvo da operação desta terça-feira (1º) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) se dizia “pior que milícia” ao extorquir das vítimas. Até o fim desta terça, 9 militares haviam sido presos.
“Tranquilo, padrinho. Cenzinho por semana, pô, só pra tomar uma água cara, pô. É sem opressão, pô. Isso aqui não é milícia não, cara. Pior que milícia. Se não quiser dar os 100 vai dar m*rda”, diz um PM em um áudio obtido pelos investigadores.
Segundo as investigações, esses policiais militares exigiam dinheiro para fazer “segurança privada” de estabelecimentos comerciais em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Os comerciantes que pagam são apelidados de padrinhos.
De acordo com a denúncia do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp/MPRJ), em horário de trabalho, usando fardas e viaturas, os PMs faziam o serviço para restaurantes, postos de combustíveis, farmácias, clínicas, universidades, funerárias, serviços de transporte e até um posto do Detran.
“Rapaziada, para reforçar uma situação ontem: [um campo de] grama sintética nova. Nós fomos lá ontem, desenrolamos alguma coisa. O cara falou que iria falar com o responsável. Mas é aquilo. É bom a guarnição de hoje voltar lá de novo. É, vai ser bom. Vai ser mais um aí, engrossar! Ritmo de festa!”, mostra outro áudio.
Promotores saíram para cumprir mandados de prisão contra 11 policiais militares. Só no 39º BPM (Belford Roxo), eram 6 alvos. Os 11 foram denunciados por organização criminosa, corrupção passiva e peculato, que é quando um funcionário público se apropria de dinheiro se valendo do cargo que ocupa.
MPRJ prende PMs que faziam segurança privada durante o expediente
Os mandados foram expedidos pela Auditoria da Justiça Militar e foram cumpridos em endereços em Belford Roxo, Nova Iguaçu, Maricá e nos bairros da Pavuna e Bento Ribeiro, na capital.
Segundo o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp/MPRJ), os crimes ocorreram entre 2021 e 2024, período em que os policiais estavam lotados no 39º BPM (Belford Roxo) — alguns permaneceram na unidade.
Os comerciantes beneficiados pelo esquema eram informalmente chamados de “padrinhos”. Entre os estabelecimentos, estavam:
restaurantes;
lanchonetes;
mercados;
lojas;
postos de combustíveis;
depósitos;
farmácias;
clínicas;
universidades;
funerárias;
serviços de mototáxi e transporte alternativo;
feiras livres;
festas populares;
e até um posto do Detran em Belford Roxo.
“Segundo as investigações do Gaesp, a oferta do serviço era contratada pelos comerciantes, com quem os PMs estabeleciam uma relação de dependência econômica, comprometendo os princípios da legalidade, moralidade e isonomia no acesso à segurança pública”, explicou o MPRJ.
Procurada, a PM disse que a Corregedoria acompanha a ação do MP e que a corporação vem atuando contra todos os tipos de delitos cometidos por policiais militares e não compactua com possíveis desvios de conduta ou cometimento de crimes praticados por seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos.
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Policial é preso durante operação do MPRJ
Reprodução/TV Globo
MPRJ e a Corregedoria da PM cumprem mandados contra policiais
Reprodução/TV Globo