Tarifaço de Trump: governo e empresários consideram que Lei da Reciprocidade deve ser o último recurso a ser usado


Tarifaço de Trump: Governo e empresários consideram que Lei da Reciprocidade deve ser último recurso
O comitê interministerial que vai elaborar a resposta brasileira às chantagens de Trump fez nesta terça-feira (15) as primeiras reuniões com representantes da indústria e do agronegócio. Governo e empresários consideram que a Lei da Reciprocidade deve ser o último recurso a ser usado.
Pela manhã, o comitê formado pelos ministérios da Indústria, Comércio e Serviços, da Fazenda, da Casa Civil e das Relações Exteriores recebeu os setores da indústria que mais exportam para os Estados Unidos. Eles defenderam uma trégua de 90 dias para tentar uma saída diplomática, sem usar a Lei da Reciprocidade. O prazo inicial estipulado por Trump termina daqui a 16 dias.
“O que temos aqui é um verdadeiro perde-perde e não faz sentido de forma nenhuma – nem econômica, nem social, nem geopolítica, nem política – um perde-perde. Isso não é razoável. O que nós queremos é o entendimento, e felizmente temos visto isso como uma postura do governo”, diz Ricardo Alban, presidente da CNI.
À tarde, o comitê ouviu os setores do agronegócio. Além do impacto das tarifas nos negócios, o setor está preocupado com o efeito imediato da ameaça americana na produção dos perecíveis. Além dos exportadores de manga, os exportadores de suco de laranja, por exemplo, têm uma safra inteira a ser colhida sem saber se ela será vendida ou não. Os exportadores de carne bovina estão parando a produção.
“É um volume em torno de US$ 150 milhões, US$ 160 milhões que já estão produzidos e a caminho dos Estados Unidos. Uma preocupação adicional ao produtor, que tem impacto em uma cadeia que gera 7 milhões de empregos no Brasil, e que nós viemos trazer ao governo a nossa preocupação, dizer que estamos negociando com os importadores nos Estados Unidos”, afirma Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reconheceu a dificuldade e disse que o governo busca alternativas:
“Nós vamos, então, intensificar a busca de alternativas, mas já no reconhecimento de que não é possível, em 10 ou 15 dias, dar destino a tudo isso que se produz no Brasil e é vendido para os Estados Unidos. O diálogo está aberto da parte brasileira, mas com respeito à soberania e com muita altivez”.
Segundo o governo, a Lei da Reciprocidade seria o último recurso. A principal estratégia para tentar reverter a chantagem de Trump será o diálogo. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que comanda o comitê de negociação, disse que as propostas dos setores coincidem com o encaminhamento que o presidente Lula quer dar para essa crise. Segundo Alckmin, pelo menos por enquanto, o governo não vai pedir prorrogação de prazo.
“Houve uma colocação aqui da questão que o prazo é exíguo e pedindo um prazo maior. Mas a ideia do governo não é pedir que o prazo seja estendido, mas procurar resolver até o dia 31. O governo vai trabalhar para tentar resolver e avançar nesse trabalho nos próximos dias. Então, trabalharmos também com os empresários americanos, mostrando que isso tem um prejuízo não só para o Brasil, mas também um prejuízo para a população americana, porque há uma complementariedade econômica”, diz Geraldo Alckmin, vice-presidente da República.
Tarifaço de Trump: governo e empresários consideram que Lei da Reciprocidade deve ser o último recurso a ser usado
Jornal Nacional/ Reprodução
Nos Estados Unidos, a Câmara de Comércio divulgou uma nota em conjunto com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil pedindo que os dois governos trabalhem para evitar a implantação do tarifaço. As entidades afirmam que a medida tem o potencial de causar danos graves a uma das relações econômicas mais importantes dos Estados Unidos, além de estabelecer um precedente preocupante, e pode afetar produtos essenciais às cadeias produtivas e aos consumidores norte-americanos, elevando os custos para as famílias e reduzindo a competitividade de setores produtivos estratégicos dos Estados Unidos, atingindo diretamente mais de 6,5 mil pequenas empresas que dependem de produtos importados do Brasil.
As entidades terminam dizendo que “uma relação comercial estável e produtiva entre as duas maiores economias das Américas beneficia consumidores, sustenta empregos e promove prosperidade em ambos os países”.
Nesta terça-feira (15), o Itamaraty elevou o tom. Em uma nota pública sobre o tarifaço, declarou que o governo brasileiro deplora e rechaça as manifestações dos Estados Unidos, que vem negociando com autoridades americanas desde março e que está disposto a manter o diálogo; e afirmou que “a equivocada politização do assunto não é de responsabilidade do Brasil, país democrático cuja soberania não está e nem estará jamais na mesa de qualquer negociação”.
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