
Assessor flagrado com R$ 700 mil em espécie recebeu PIX de R$ 2,4 milhões de empresas ligadas a ataque hacker
O corretor de imóveis Jackson Renei Aquino de Souza, de 38 anos, foi exonerado do cargo de assessor parlamentar da Assembleia Legislativa de Roraima (Ale-RR) nessa quarta-feira (23). Ele foi preso na última segunda-feira (21) com R$ 700 mil relacionados ao ataque hacker que desviou milhões das contas de instituições financeiras – o ataque é considerado um dos maiores e mais graves do país.
Jackson foi preso em flagrante pela PF por suspeita de lavagem de dinheiro. Ele foi abordado ao sair de uma agência bancária. A Justiça converteu nessa quarta-feira (23) a prisão em preventiva durante audiência de custódia. Não se sabe qual a participação de Jackson no ataque hacker.
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Na Ale-RR, ele era assessor parlamentar comissionado do deputado Neto Loureiro (PMB) e afirmou receber o salário de R$ 4 mil. Como corretor de imóveis, ele afirmou ter renda de R$ 10 mil mensais. A exoneração dele consta do Diário da Ale-RR e é assinada pelo Superintendente de Gestão de Pessoas, Claudemi Alves.
Procurada, a defesa dele não se manifesta publicamente sobre nenhum caso. Em nota, o Neto Loureiro disse que Jackson estava de férias e que “não compactua com qualquer tipo de ato ilegal.” A Assembleia Legislativa de Roraima informou que “estão sendo adotadas as providências administrativas cabíveis para o seu desligamento, que será formalizado ainda hoje”.
Jackson é natural de Itaituba, no Pará, e é conhecido com Jackson Cicareli. É casado e pai de três filhas pequenas. À polícia, ele afirmou ser quem sustenta a família. Entre seus bens, ele afirma ter um carro com financiamento em andamento e parcelas de R$ 2,7 mil e um imóvel com parcela mensal de R$ 800.
Assessor parlamentar Jackson Renei Aquino de Souza foi flagrado pela PF com R$ 700 mil em espécie
Reprodução/Facebook e Divulgação/PF
Prisão com dinheiro e ligação com ataque hacker
A PF chegou até Jackon após um alerta da Coordenação de Repressão a Fraudes Bancárias Eletrônicas de que ele havia agendado um saque de R$ 1 milhão para a segunda. Na investigação, agentes descobriram que havia caído R$ 2,4 milhões na poupança do assessor e que o dinheiro tinha relação o desvio do ataque cibernético.
As transferências para a conta poupança do assessor partiram de duas empresas que, segundo rastreamento do Banco Central enviado à PF, têm ligação com o furto milionário contra instituições financeiras. A primeira repassou R$ 1,85 milhão; a segunda, R$ 600 mil.
Em depoimento à PF, o assessor disse que não conhecia as empresas que enviaram o dinheiro. Ele alegou que os valores eram de um garimpeiro venezuelano com quem, na condição de corretor, negociava a compra de uma fazenda em Roraima. A operação, segundo ele, foi intermediada por outro homem. Disse ainda que usou a própria conta bancária para receber os valores porque havia promessa de lucro na transação.
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No entanto, para a PF, Jackson não poderia alegar desconhecimento sobre a origem ilícita do dinheiro. O delegado do caso entendeu que o comportamento dele se enquadra no que é chamado de “cegueira deliberada”, quando alguém, mesmo podendo e devendo saber de uma irregularidade, opta por ignorá-la de forma consciente.
“Jackson podia e devia conhecer as circunstâncias, posto que é corretor de imóveis, técnico no assunto com o qual trabalha”, cita trecho do documento ao qual o g1 teve acesso.
“Ficou claro em seu depoimento que ele deliberadamente evita confirmar que está envolvido em atividade ilícita, para, justamente, poder alegar ignorância. Esta ignorância, no entanto, é intencional de quem sabe que está fazendo errado e quer se locupletar da oportunidade mesmo assim”.
Além dos R$ 700 mil em dinheiro, a PF também apreendeu o carro de Jackson. Na audiência de custódia, o juiz Marcelo Mazur decretou a prisão preventiva dele para garantir a “ordem pública e da ordem econômica” e por entender que ele “gera à sociedade, diante do grande potencial de risco de dano aos usuários do sistema financeiro”.
Ataque a instituições financeiras
No dia 2 de julho, o Banco Central do Brasil (BC) informou que a C&M Software — empresa que presta serviços tecnológicos e conecta instituições financeiras ao BC — comunicou ter sido alvo de um ataque à sua infraestrutura.
🔎 O alvo do ataque não foi o Banco Central ou o PIX, em si, mas a C&M Software. Ela é uma das empresas de tecnologia que fazem a “ponte” entre instituições financeiras menores e os sistemas do BC, para a realização de operações como o PIX.
A C&M disse que ao menos seis de seus clientes foram afetados; nem todos tiveram os nomes revelados. Também não foi divulgado o montante roubado, mas fontes da TV Globo estimam que a quantia pode chegar a R$ 800 milhões. O ataque é investigado pela PF.
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