
Pesquisadores fazem expedição inédita ao ponto mais distante do litoral brasileiro
Num cenário intocável, cercado apenas pelas águas do Oceano Atlântico, pesquisadores identificaram dezenas espécies de peixes, vários tubarões, corais e até uma “montanha” submersa. Esse local é o Arquipélago de Martin Vaz, o ponto mais distante do litoral brasileiro, e que está localizado a 1.200 quilômetros de Vitória.
Martins Vaz é uma Área de Proteção Ambiental (APA) de difícil acesso, formada por quatro ilhas oceânicas que ficam próximas à Ilha da Trindade. Gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Marinha do Brasil, o arquipélago é inabitada.
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A partir dessa expedição de 17 dias realizada no mês de junho, o grupo conseguiu realizar o levantamento de mais 100 espécies de peixes, outras espécies como tartarugas, tubarões, entre outros, além de outras seis espécies de coral.
Essas descobertas foram feitas por especialistas e pesquisadores do instituto, que realizaram uma expedição inédita ao local. O objetivo foi descobrir mais sobre as pequenas ilhotas oceânicas e um monte submerso (Monte Columbia), que chamam a atenção por apresentarem um cenário de natureza intocada pelo ser humano.
No meio de toda essa riqueza da natureza, pesquisadores analisam se ao menos uma nova espécie de peixe que vive em águas profundas foi detectada na região. Tudo isso só foi possível a partir do uso da tecnologia com um equipamento que desceu a 122 metros de profundidade e mapeou áreas nunca exploradas.
Pesquisadores realizam expedição inédita para ponto mais distante da costa brasileira, arquipélago de Martin Vaz, no Espírito Santo
João Batista Teixeira/LabNecton/Fest/Ufes
🏝️ A expedição em números:
🗓️ 17 dias;
🐠 Levantamento de mais de 100 espécies de peixes;
🌊 Levantamento de 6 espécies de corais;
🤿 Lançamento de robôs até 122 metros de profundidade;
🐟 Pelo menos um novo peixe descoberto.
A partir dos 17 censos realizados em mergulhos, a profundidades que variaram de seis a 30 metros, os pesquisadores também visualizaram a beleza e o colorido de 40 espécies diferentes de peixes.
Participaram da expedição pesquisadores do ICMBio (Centro Tamar e NGI Grandes Unidades Oceânicas), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), do CEBIMar/USP e OSCIP Voz da Natureza.
Tecnologia traz imagens exclusivas
De acordo com João Carlos Thomé, coordenador do Centro Nacional de Conservação das Tartarugas Marinhas e Biodiversidade do Mar do Leste, que participou da viagem, a expedição é um passo essencial para reforçar a importância do arquipélago para o meio ambiente. E também da necessidade de conhecer o local, mas mantê-lo preservado.
“Realizamos essa primeira expedição para fazer um levantamento mais detalhado dessas duas áreas, Martin Vaz e o Monte Columbia. É um trabalho inédito sendo feito do local mais distante da costa brasileira. São muitas coisas que não conhecemos bem e que são difíceis de acessar a partir do mergulho do ser humano. Então, com essa equipe e os novos equipamentos, conseguimos trazer informações para fazer essa conexão do alto mar com a costa”, apontou.
Tubarão foi visto durante expedição inédita para arquipélago de Martin Vaz, no Espírito Santo
João Batista Teixeira/LabNecton/Fest/Ufes
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No total, três tipos de mergulho foram realizados: a partir da metodologia BRUV (Baited Remote Underwater Video), método não destrutivo um sistema de vídeo subaquático remoto com isca, em que uma câmera a fixa com a isca atrai os animais para o campo de visão do aparelho; o ROV, (Veículo Operado Remotamente), que filma o fundo do mar a grandes profundidades; além do mergulho humano.
O coordenador técnico da expedição, João Batista Teixeira, conseguiu adaptar os veículos operados remotamente para filmar o fundo do mar.
Para isso, foram colocadas lanternas potentes para ajudar a enxergar a escuridão do oceano e uma câmera de filmagem de alta definição. O veículo também conseguiu coletar peixes menores.
Dentre as imagens feitas durante a expedição, estão espécies de tubarões nadando entre corais, ninhos do peixe Malacanthus e vários cardumes de diferentes espécies de peixes.
“Foi uma honra muito grande coordenar essa expedição e produzir imagens incríveis. Com essas imagens de alta resolução, ajuda a compreender o ambiente, no censo de peixes e analisar a cobertura de organismos marinhos, identificação de espécies e análise de impactos de pesca. São muitas histórias para contar”, destacou João Batista.
Pesquisadores mergulham na ilha de Martin Vaz, no Espírito Santo, durante expedição inédita
João Batista
João Luiz Gasparini, oceanógrafo e especialista em peixes, também participou da expedição representando a Fundação de Tecnologia, da Universidade Federal do Espírito Santo (FEST).
“É uma tecnologia importante que vai evitar que pesquisadores façam mergulhos profundos arriscados. A máquina vai mapeando por onde ela passa e, com isso, conseguimos identificar novos corais, esponjas, peixes, crustáceos… Estamos simplesmente sem palavras para revelar a riqueza de informações trazidas nessa expedição”, completou.
O material coletado agora é analisado pelos pesquisadores, para conseguir confirmar se, de fato, uma nova espécie ou mais foram descobertas, além de ajudar a entender melhor os ecossistemas das ilhas.
“Muitas vezes, nos deparamos com espécies que sabíamos da existência, mas nunca tínhamos ido até lá. Por exemplo, descobrimos uma caverna submarina que atravessa Martin Vaz de um ponto a outro, tudo submerso”, disse Joca, como ele é conhecido.
Uma das espécies de peixe coletada em que o pesquisadores acreditam ser inédita se trata de um animal pequeno que vive em altas profundidades.
“Estamos fazendo agora um estudo genético, vamos comparar com outras espécies do gênero, comparar cores, proporções, e aí a certeza mesmo só vem após a análise. Mas o que podemos dizer é que é uma espécie pequena, de no máximo seis centímetros que ocorre em profundidades abaixo dos 60/70 metros. Nós encontramos ele em 120 metros. É um bicho do fundo, em que pouca luz chega. É uma espécie parecida com as garoupas e badejos, só que menor”, complementou Gasparini.
Pesquisadores realizam expedição inédita até ponto mais distante do litoral brasileiro
Paraíso intocado
O arquipélago Martin Vaz é uma formação rochosa de origem vulcânica com cerca de três milhões de anos. Fica a 1.200 quilômetros da costa brasileira, enquanto a Ilha da Trindade fica a 1.160 quilômetros.
As duas formações fazem parte de uma série de montanhas de vulcões inativos que segue de Vitória e termina em Martin Vaz, por isso, é chamada cadeia Vitória-Trindade. Martin Vaz é a última erupção vulcânica, que sai do fundo do oceano há 5 mil metros.
“A maior diferença entre Trindade e Martim Vaz é o tamanho. Trindade é muito maior, é uma ilha com diversas praias, atuação da Marinha, centro de pesquisa. Já Martim Vaz é uma área intocada, ninguém ocupa. Então, temos o menor impacto possível”, pontuou João Carlos Thomé.
Ilha de Martin Vaz, ponto mais distante da costa brasileira no Espírito Santo
João Batista Teixeira/LabNecton/Fest/Ufes
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