
O cantor Arlindo Cruz foi liberado pela equipe médica para desfilar na X-9 Paulistana
Marcelo Brandt/G1
O cantor, compositor e multi-instrumentista Arlindo Cruz, que morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, foi homenageado no carnaval de São Paulo, em 2019, pela escola de samba X-9 Paulistana.
Com o enredo “Meu Lugar é Cercado de Luta e Suor, Esperança Num Mundo Melhor! O Show Tem Que Continuar”, uma referência à música e à vida de Arlindo Cruz, a letra expressa a realidade de muitos brasileiros, marcada pela luta, mas cercada pela esperança de um futuro melhor.
Na época, o desfile comemorou os 60 anos do cantor, que já se recuperava de um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVC) sofrido em 2017. Arlindo ficou quase um ano e meio internado. Ele foi liberado por médicos para participar de desfile.
O samba foi composto por Arlindo Neto (filho do cantor conhecido como Arlindinho), André Diniz, Claudio Russo, Márcio André Filho, Marcelo Valência e Darlan Alves.
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Nesta sexta, Darlan descreveu ao g1 a emoção de participar de um projeto em homenagem a Arlindo Cruz. A produção da escola X-9 contou com um clipe com diversos artistas, incluindo grandes nomes como Xande de Pilares, Reinaldo, Dudu Nobre, Beth Carvalho e Péricles.
“O Alindo sempre foi uma referência pra gente, como compositor, como músico, como artista. E foi muito bacana acompanhar esse ciclo do enredo”, disse.
“O Arlindo é o maior compositor de samba, pagode, samba-enredo, em todos esses seguimentos, ele é imortal. Hoje, dou adeus à maior referência da minha geração.”
Cantor da Estrela do Terceiro Milênio, escola de samba do Grajaú, na Zona Sul, Aves é um dos autores do enredo da Império de Casa Verde, da Zona Norte de São Paulo, para o Carnaval 2026.
Um dos compositores é o filho de Arlindo Cruz, o Arlindinho. Segundo ele, a gravação em estúdio, que seria feita hoje, foi adiada com a morte do cantor.
“Terminamos o samba e iríamos gravar hoje, no estúdio, para o carnaval de 2026. Arlindinho estava chegando em São Paulo para a gravação, que seria às 20h, mas infelizmente tivemos que adiar. É uma tristeza.”
Nas redes sociais, a X-9 Paulista lamentou a morte de Arlindo.
“Um verdadeiro poeta, um gênio da música popular brasileira, um amante do samba. Não foi apenas um artista, foi história viva, foi resistência, foi inspiração.”
O desfile
Logo na comissão de frente, a escola mostrou a luta de Arlindo, que sofreu um AVC, por meio de uma representação de um confronto entre Ajogun, uma força negativa dentro das religiões africanas, e Xangô, santo do cantor. Babi, esposa de Arlindo, foi representada como a orixá Yansã.
Depois disso, a X-9 explorou a carreira e a vida do sambista, desde sua origem africana ao começo do sucesso no bloco Cacique de Ramos, que culminou nas suas participações no grupo Fundo de Quintal e no programa “Esquenta”.
O quarto carro ainda representou as favelas e seus moradores, sempre exaltados pelo cantor. Mais de 50 atores mostravam a luta e a história das comunidades.
Mas o destaque foi mesmo o próprio Arlindo, que esteve no desfile acompanhado da família no último carro, segurando um machadinho de Xangô. Sua presença era incerta devido à chuva, que podia prejudicar sua saúde, mas, no fim, ele conseguiu participar da festa.
‘O sambista perfeito’
Nascido no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1958, Arlindo Domingos da Cruz Filho era um dos cantores de samba mais conhecidos no Brasil.
Ele era apelidado por admiradores e amigos de “o sambista perfeito”, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido acabou virando título de uma biografia lançada este ano.
Além de escrever e cantar, Arlindo ficou famoso por tocar cavaquinho e banjo. Ganhou o primeiro cavaquinho aos 7 anos. Aos 12, começou a tocar músicas “de ouvido” e aprendeu violão ao lado do irmão Acyr Marques.