
Laudo identifica contaminação de ferro, cobre e outros resíduos na água do Rio Grande
O laudo de um laboratório, contratado por pescadores, identificou diversos resíduos na água do Rio Grande, entre Fronteira (MG) e Icém (SP), em níveis considerados anormais, que podem representar sérios riscos para o meio ambiente.
O pedido de análise ao laboratório foi motivado após pescadores perceberem que o esgoto poderia estar sendo despejado no rio pela Copasa, companhia responsável pelo saneamento básico em Minas Gerais.
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Vídeos gravados por eles e enviados à reportagem mostram a gravidade da situação. Assista acima. A água no Rio Grande, inclusive, é utilizada para o abastecimento humano, após o tratamento.
À TV TEM, o empresário Danilo Linares Sant’Ana disse que o problema ocorre há pelo menos dois anos e se estende pelo rio, logo após a barragem da Usina Hidrelétrica de Marimbondo. Ele é proprietário de um rancho no local.
“Pagamos um laboratório particular para fazer a análise da água, porque eu vi que o cheiro era muito forte, todos os dias aquela espuma branca. É triste”, lamenta o empresário.
Laboratório identifica contaminação de ferro, cobre e outros resíduos na água do Rio Grande em Icém (SP)
João Selare/TV TEM
Níveis irregulares de amônia e chumbo
A coleta foi realizada por um laboratório particular no dia 26 de junho, diretamente na saída do emissário de efluentes tratados da estação de tratamento. O relatório do laboratório foi emitido no dia 17 de julho deste ano.
Os resultados do laudo técnico foram comparados com os limites estabelecidos pelas resoluções e comprovaram as suspeitas dos pescadores, uma vez que apontou que o efluente lançado não atende aos padrões da legislação ambiental.
A análise dos resultados revelou quatro não conformidades críticas com a legislação ambiental vigente. Entre os componentes que não estão em conformidade com a legislação, estão o nitrogênio com amônia, cujo limite é de 20 mg/L e a concentração apontou mais de 80 mg/L. Veja abaixo.
Não conformidade com a resolução da Conama nº 430/2011 (padrões de lançamento):
Sólidos sedimentáveis: o resultado de 8 mL/L excede em oito vezes o limite de 1 mL/L. Isso indica uma elevada carga de material particulado, com potencial para causar turbidez e assoreamento do leito do rio;
Nitrogênio amoniacal: o valor de 80,165 mg/L é quatro vezes superior ao limite de 20 mg/L. Altas concentrações desta substância são tóxicas para a vida aquática e contribuem para a eutrofização do corpo d’água.
Não conformidade com a resolução da Conama nº 357/2005 (qualidade do corpo receptor):
O cobre dissolvido: o resultado de 12,99 mg/L ultrapassa o limite de 9 mg/L. O cobre é um metal pesado tóxico para organismos aquáticos, mesmo em baixas concentrações;
O ferro dissolvido: o valor de 1589,23 mg/L excede em mais de cinco vezes o limite de 300 mg/L. O excesso de ferro pode impactar a biota aquática e causar problemas de turbidez e coloração na água.
Urubus no rio
Técnicos encontraram urubus nas margens, que são atraídos pela decomposição de matéria orgânica em Icém (SP)
Arquivo pessoal
Além dos resultados laboratoriais, em vistoria realizada no dia 13 de julho, foi identificada uma anomalia nos aspectos físicos de um córrego afluente do Rio Grande, nas proximidades de uma estação elevatória de esgoto.
A situação sugere um possível lançamento irregular de esgoto bruto diretamente no córrego, o que agravaria ainda mais a poluição. No dia do registro, os técnicos encontraram urubus nas margens, que são atraídos pela decomposição de matéria orgânica.
A existência de uma fonte de “alimento” para esses animais no ponto de descarga demonstra que pode estar ocorrendo falha no processo de tratamento e a alta carga orgânica do efluente.
A comprovação com resultado do laudo de que a água está contaminada deixou Marco Aurélio da Costa, que é técnico em meio ambiente natural de Paulo de Faria (SP), inconformado.
“Tanto as empresas quanto as usinas devem ter bons profissionais envolvidos para que a gente tenha a segurança que o trabalho está sendo bem feito e as autoridades cobrem os resultados. Assim a sociedade será protegida e o meio ambiente também”, reforça Marco.
O que dizem as autoridades ambientais
O relatório sugere que o caso seja encaminhado ao Ministério Público de Minas Gerais, para que a Copasa seja notificada e obrigada a adotar, imediatamente, medidas corretivas que garantam a total adequação do sistema de tratamento. Também é recomendada a apuração sobre o possível lançamento irregular de esgoto bruto no afluente do Rio Grande.
A TV TEM questionou o Ministério Público de Minas Gerais, além da Copasa, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Em nota, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que vai enviar técnicos para a coleta de amostras e análise da água.
Já o MP de SP informou que em 2023, houve notícia de fato sobre denúncias que versavam sobre emissão de efluentes líquidos no Rio Grande. Durante a apuração, foi enviada cópia integral do expediente à Promotoria de Justiça de Fronteira, a qual informou que fora instaurada a Notícia de Fato.
Contudo, o relatório encaminhado pela Cetesb apontou que o lançamento de efluentes tratados no local estava sendo realizado de forma adequada e em conformidade com a lei. Portanto, com base no que foi relatado esses efluentes líquidos não são prejudiciais a fauna e a flora do local.
Após a situação, o MP confirmou que não houve mais denúncias sobre o caso.
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