Família mantém cultura do café viva há 40 anos em terras desafiadoras de MS


Como família mantém viva cultura do café há 40 anos em terras desafiadoras
Em Ivinhema, no interior de Mato Grosso do Sul, uma família segue apostando no cultivo de café mesmo diante de um cenário de retração da cultura no estado. A atividade, que já foi mais comum na região, hoje resiste em poucas propriedades, quase sempre por tradição e paixão. Veja o vídeo acima.
Os cafezais em Mato Grosso do Sul têm diminuído ano após ano, e a principal dificuldade dos produtores tem sido permanecer na atividade. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa é que o estado produza 207 toneladas de café em 2025, volume modesto frente a outras regiões do país.
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Tradição familiar e adaptação tecnológica
A família Branco mantém o cultivo em Ivinhema desde 1971, quando começou a trabalhar com café em pequenas áreas. Aos poucos, foram ampliando a lavoura. Hoje, se dedicam exclusivamente à cultura do grão, mesmo com a produção em baixa e a concorrência de outras atividades mais rentáveis.
“Se não somos os únicos, somos quase. Aqui já foi uma região forte no café, mas hoje quase ninguém cultiva mais. Quem continua é porque gosta mesmo”, diz Oridis Petreli Branco, um dos produtores da família.
Para continuar no campo, os produtores têm investido em atualização técnica. Segundo Euridices, o clima tem mudado constantemente, as pragas se tornam mais resistentes, e é preciso buscar novas tecnologias para acompanhar essas mudanças.
Café especial depende da colheita no ponto certo
Um dos diferenciais da produção está na forma como o café é colhido. No início da safra, os grãos cereja, maduros e colhidos diretamente no pano, garantem uma bebida de maior qualidade. Esse tipo de café é ideal para a produção de cafés especiais.
“O ponto certo é quando o grão está bem vermelho, cheio de doçura natural. A casca solta um ‘melzinho’, e isso influencia no sabor da bebida depois da torra”, explica Oridis.
Quando o grão cai no chão, ele perde qualidade por conta do contato com o solo. “A bebida já não é a mesma. Pega gosto de terra, e aí não tem mais o que fazer”, lamenta o produtor.
Clima e pragas limitam produtividade
Nos últimos anos, a falta de chuvas tem sido um dos principais entraves da produção. Em regiões como Ivinhema, a média anual de precipitação gira em torno de 1.800 milímetros. Em 2024, no entanto, o volume foi de apenas 1.150 milímetros.
A seca afeta diretamente a florada do café e, com isso, a produtividade. A expectativa para esta safra é de apenas 18 a 20 sacas por hectare, considerada baixa. “Na hora da florada, o pé murcha. Sem chuva, não tem o que fazer. Pode adubar, cuidar, mas sem água, não se recupera”, resume.
Além da seca, os cafeicultores enfrentam o ataque de pragas como o bicho mineiro, que se intensifica nos períodos mais secos. Segundo Oridis, quando o pé de café está fraco, o controle com defensivos quase não tem efeito. “A planta perde a força, o defensivo não resolve, e a praga toma conta”, explica.
Irrigação entra no plano de futuro
Diante das mudanças climáticas, a irrigação está nos planos dos produtores para garantir maior estabilidade. A família reconhece que o sistema é um investimento necessário, mesmo sem previsão definida de quando será implantado.
“A irrigação virou prioridade. Estamos conversando sobre isso aqui, eu e meu filho Maicon, que já está tocando a frente da propriedade. Esse deve ser o nosso próximo passo”, afirma o produtor.
Com a diminuição das lavouras e a saída de jovens da zona rural, manter o cafezal ativo virou também uma missão familiar. Maicon, filho de Euridices, já assumiu a gestão da propriedade e está determinado a dar continuidade ao trabalho iniciado pelos pais.
“É uma responsabilidade grande. A juventude está saindo do campo, e o café é raro aqui no estado. Mas a gente tem estrutura, bons parceiros e acesso à assistência técnica. O jeito é continuar aprendendo e melhorando sempre”, disse Maicon Roque Branco.
A família aposta na união entre tradição, inovação e amor pela terra para manter viva uma cultura que, em Mato Grosso do Sul, já entrou em processo de extinção.
Cultura é mantida em propriedade há 40 anos.
Chico Gomes/TV Morena
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