
Produtos apreendidos na fronteira com o Paraguai viram combustível na usina de Itaipu
Mais de 600 toneladas de alimentos apreendidos pela Receita Federal na fronteira entre o Brasil e o Paraguai já foram transformadas em biometano e abastecem veículos da frota da Usina de Itaipu, localizada em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná.
A iniciativa gera energia reaproveitando produtos vencidos ou irregulares que seriam descartados.
“Estes produtos só têm esta destinação se não estiverem próprios para o consumo humano, como produtos vencidos, com embalagem danificada, embalagem fora dos padrões legais ou com recomendação de inutilização”, diz a Receita Federal.
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Entre os itens que chegaram ao biodigestor, operado pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), estão feijão, milho, café, azeite, vinho, farinha, leite em pó e cacau, vindos de apreensões da Receita Federal, Polícia Federal e Ministério da Agricultura. A maioria desses produtos entrou no Brasil por contrabando ou descaminho.
Macarrão, azeite, batatas e cebolas são alguns dos produtos destinados à geração de energia
CIBiogás
De acordo com a usina, mais de 400 tipos de resíduos podem ser transformados em energia limpa.
Geovani Geraldi, da Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico do CIBiogás, explica que, para garantir a qualidade do biogás e biometano, é preciso dosar o conteúdo levado para o biodigestor.
“Farinha produz muito biogás, mas não tanto assim de metano. Então, eu preciso dosar a farinha com mais calma do que azeite de oliva, que produz muito biogás e é rico em metano, então coloco mais azeite de oliva”, exemplifica.
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Processo de biodigestão
Estrutura de biodigestão para geração de energia
CIBiogás
O processo acontece em um grande tanque vedado, onde ocorre a biodigestão, que é a decomposição de matéria orgânica em ambiente sem oxigênio. Essa decomposição gera o biogás.
Parte desse gás é purificado e convertido em biometano, que abastece veículos leves da frota da hidrelétrica e o ônibus turístico da usina.
A produção diária média é de 200 metros cúbicos de biogás e 100 metros cúbicos de biometano, o suficiente para abastecer até 10 carros por dia.
Frota turística da usina utiliza combustível gerado com decomposição de produtos de contrabando
Kiko Sierich/PTI/Divulgação
“Os resíduos orgânicos recebidos são submetidos a um processo de higienização por meio de pasteurização a 80°C por duas horas, o que garante a eliminação de agentes patogênicos”, informa a Itaipu.
Desde o início das operações, em 2017, a biousina já gerou mais de 41 mil metros cúbicos de biometano — volume que permitiu rodar 484 mil quilômetros.
“O biometano sendo usado para substituir diesel causa um impacto muito grande em termos de redução de emissões [de carbono]”, afirma Felipe Marques, diretor de Estratégias de Mercado do CIBiogás.
Segundo ele, em termos de emissão de gases do efeito estufa, o biometano se equipara ao etanol.
Energia menos poluente no setor de transportes
O biometano é visto como uma das principais alternativas para descarbonizar o setor de transporte no Brasil, responsável por 16% das emissões de gases de efeito estufa, segundo o Net Zero Readiness Report 2023, relatório produzido pela consultoria KPMG.
Diferente do gás natural, o biometano pode ser produzido próximo ao local de consumo e aproveita a mesma infraestrutura de distribuição.
A nota técnica “Descarbonização do setor de transporte rodoviário”, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), aponta que a intensidade de carbono do biometano é de apenas 8,35 gCO₂eq/MJ — um dos menores entre os combustíveis utilizados no Brasil.
Valores representados em gramas de dióxido de carbono equivalente por megajoule (gCO²eq/MJ), medida que indica quantidade de gases de efeito estufa emitida para cada megajoule de energia fornecida por um combustível
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética/Ministério de Minas e Energia
A projeção é que esse número se mantenha estável até 2034, consolidando o biometano como peça-chave na transição energética.
Durante a 30ª Fenasucro & Agrocana, feira mundial da bioenergia, que aconteceu em 2024 em Sertanópolis, interior de São Paulo, foi apresentado um cenário otimista na produção de biometano. A produção deve saltar de 1,6 milhão para até 7 milhões de metros cúbicos por dia até 2029.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estima que o Brasil já tem 12 usinas produtoras autorizadas e outras 35 em fase de implementação, com previsão de entrada em operação até 2027.
A nova Lei do Combustível do Futuro, sancionada em 2024, também dá suporte à expansão do setor ao incluir o biometano entre os combustíveis estratégicos para a descarbonização do transporte no país.
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