
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Andrew Caballero-Reynolds/AFP/Getty Images via BBC
Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenta intermediar o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, ele vem destacando seu histórico em negociações de paz desde o início de seu segundo mandato.
Em discurso na Casa Branca em 18 de agosto, onde foi pressionado por líderes europeus a insistir em um cessar-fogo, ele afirmou: “Eu acabei com seis guerras… eu fiz todos esses acordos sem sequer mencionar a palavra ‘cessar-fogo'”.
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No dia seguinte, o número que ele citou havia subido para “sete guerras”.
O governo Trump afirmou que “já passou da hora” de o “pacificador-chefe” receber o Prêmio Nobel da Paz — e listou as “guerras” que ele supostamente encerrou.
Algumas duraram apenas alguns dias — embora fossem resultado de tensões de longa data —, e não está claro se alguns dos acordos de paz vão ser duradouros.
Trump também usou a palavra “cessar-fogo” várias vezes ao falar sobre o tema em sua plataforma Truth Social.
A BBC Verify, equipe de checagem da BBC, analisou mais de perto esses conflitos — e até que ponto o presidente americano merece crédito por ter acabado com eles.
Israel e Irã
Trump diz que ataques dos EUA atrasaram em ‘muitos anos’ capacidade de o Irã desenvolver armas nucleares
O conflito de 12 dias começou quando Israel atacou alvos no Irã em 13 de junho.
Trump confirmou que havia sido informado pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, antes dos ataques.
Os EUA realizaram ataques a instalações nucleares iranianas — o que foi amplamente visto como um passo para encerrar rapidamente o conflito.
Em 23 de junho, Trump postou: “Oficialmente, o Irã vai iniciar o CESSAR-FOGO e, após 12 horas, Israel vai iniciar o CESSAR-FOGO e, após 24 horas, o FIM OFICIAL DA GUERRA DE 12 DIAS vai ser saudado pelo mundo”.
Após o fim das hostilidades, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, insistiu que seu país havia obtido uma “vitória decisiva”, e não mencionou um cessar-fogo.
Desde então, Israel sugeriu que poderia atacar o Irã novamente para combater novas ameaças.
“Não há acordo sobre uma paz permanente ou sobre como monitorar o programa nuclear do Irã daqui para frente”, argumenta Michael O’Hanlon, pesquisador do think tank Brookings Institution.
“Portanto, o que temos é mais um cessar-fogo na prática do que o fim da guerra, mas eu daria a ele algum crédito, pois o enfraquecimento do Irã por Israel — com a ajuda dos EUA — foi estrategicamente significativo.”
Alvos no Irã e em Israel foram atingidos durante 12 dias de conflito.
AFP/Getty Images via BBC
Paquistão e Índia
As tensões entre esses dois países com armas nucleares existem há anos, mas em maio as hostilidades eclodiram após um ataque na Caxemira administrada pela Índia.
Após quatro dias de ataques, Trump postou que a Índia e o Paquistão haviam concordado com um “CESSAR-FOGO TOTAL E IMEDIATO”.
Ele disse que isso foi resultado de “uma longa noite de negociações mediadas pelos Estados Unidos”.
O Paquistão agradeceu a Trump, e mais tarde recomendou seu nome para o Prêmio Nobel da Paz, citando sua “intervenção diplomática decisiva”.
A Índia, no entanto, minimizou os relatos sobre o envolvimento dos EUA: “As negociações sobre a cessação das ações militares foram realizadas diretamente entre a Índia e o Paquistão, por meio dos canais existentes estabelecidos entre os dois exércitos”, disse o secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri.
Ruanda e República Democrática do Congo
As hostilidades de longa data entre esses dois países se intensificaram depois que o grupo rebelde M23 tomou o controle de um território rico em minerais no leste da República Democrática do Congo no início do ano.
Em junho, os dois países assinaram um acordo de paz em Washington com o objetivo de pôr fim a décadas de conflito. Trump disse que isso ajudaria a aumentar o comércio entre eles e os EUA.
O texto pedia “respeito ao cessar-fogo” acordado entre Ruanda e a República Democrática do Congo em agosto de 2024.
Os rebeldes do M23 têm ligações com Ruanda.
Getty Images via BBC
Desde o último acordo, ambos os lados se acusam mutuamente de violar o cessar-fogo, e os rebeldes do M23 — que o Reino Unido e os EUA vinculam a Ruanda — ameaçaram abandonar as negociações de paz.
“Ainda há combates entre o Congo e Ruanda — então, esse cessar-fogo nunca foi realmente mantido”, afirma Margaret MacMillan, professora de história que deu aula na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Tailândia e Camboja
Em 26 de julho, Trump postou na plataforma Truth Social: “Estou ligando para o primeiro-ministro interino da Tailândia, agora mesmo, para solicitar um cessar-fogo e o fim da guerra, que está atualmente em curso”.
Poucos dias depois, os dois países concordaram com um “cessar-fogo imediato e incondicional” após menos de uma semana de combates na fronteira.
A Malásia realizou as negociações de paz, mas o presidente Trump ameaçou interromper negociações separadas sobre a redução das tarifas (impostos sobre importações) dos EUA, a menos que a Tailândia e o Camboja parassem de lutar.
Ambos dependem fortemente das exportações para os EUA.
Em 7 de agosto, a Tailândia e o Camboja chegaram a um acordo com o objetivo de reduzir as tensões ao longo da fronteira compartilhada.
Armênia e Azerbaijão
Os líderes dos dois países afirmaram que Trump deveria receber o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços em garantir um acordo de paz, que foi anunciado na Casa Branca em 8 de agosto.
“Acho que ele merece crédito por isso — a cerimônia de assinatura no Salão Oval pode ter levado as partes à paz”, afirma O’Hanlon.
Em março, os dois governos afirmaram estar prontos para pôr fim ao conflito de quase 40 anos centrado no status de Nagorno-Karabakh.
A mais recente e grave onda de combates ocorreu em setembro de 2023, quando o Azerbaijão tomou o enclave (onde viviam muitos armênios étnicos).
Em agosto, Trump recebeu o presidente do Azerbaijão e o primeiro-ministro da Armênia na Casa Branca.
Getty Images via BBC
Egito e Etiópia
Não havia nenhuma “guerra” aqui para o presidente encerrar, mas há muito tempo existem tensões em relação a uma represa no rio Nilo.
A Grande Represa do Renascimento Etíope foi concluída neste verão do hemisfério norte, com o Egito argumentando que a água que recebe do Nilo poderia ser afetada.
Após 12 anos de divergências, o ministro das Relações Exteriores do Egito disse em 29 de junho que as negociações com a Etiópia haviam chegado a um impasse.
Trump disse: “Se eu fosse o Egito, iria querer a água do Nilo”. Ele prometeu que os EUA iriam resolver a questão muito rapidamente.
O Egito recebeu bem as palavras de Trump, mas as autoridades etíopes afirmaram que elas corriam o risco de acirrar a tensão.
Não foi alcançado nenhum acordo formal entre o Egito e a Etiópia para resolver as divergências.
Sérvia e Kosovo
Em 27 de junho, Trump afirmou ter evitado uma onda de hostilidades entre eles, dizendo: “Sérvia e Kosovo estavam prestes a entrar em conflito, seria uma grande guerra. Eu disse que, se eles entrassem em conflito, não haveria comércio com os Estados Unidos. Eles disseram: bem, talvez não entremos em conflito”.
Os dois países estão em disputa há muito tempo — um legado das guerras dos Balcãs da década de 1990 —, com tensões crescentes nos últimos anos.
“A Sérvia e Kosovo não estão lutando nem atirando um no outro, então não há uma guerra para encerrar”, observa MacMillan.
A Casa Branca indicou à reportagem os esforços diplomáticos de Trump em seu primeiro mandato.
Os dois países assinaram acordos para normalizar as relações econômicas no Salão Oval com o presidente em 2020, mas não estavam em guerra na época.
Reportagem adicional de Peter Mwai, Shruti Menon e Eve Webster.