Esposa de Jaguar diz que realizará pedido do marido de que cinzas sejam espalhadas por bares que ele frequentava


Corpo do cartunista Jaguar é velado no Rio
A esposa do cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, disse que realizará o pedido do marido de que suas cinzas sejam colocadas em bares que ele frequentava. Célia Regina Pierantoni afirmou ao repórter Diego Haidar, da TV Globo, que ainda não sabe como fará, mas que não vai deixar de atender ao pedido.
O pedido dele foi registrado em cartório, na Santa Casa de Misericórdia, em fevereiro de 1997.Jaguar tinha 93 anos e morreu neste domingo (24). O corpo dele foi velado em meio a charges nesta segunda.
O humorista Marcelo Madureira relembrou a amizade com o cartunista e o descreveu como uma “pessoa grandiosa”.
“Eu gostaria de ter convivido mais. Um amigo que, para a minha alegria, me ensinou muita coisa, assim como Millôr. Uma pessoa grandiosa, que tinha um talento extraordinário”, disse.
O fotógrafo e pintor Carlos Vergara lembrou de um desenho que ganhou de presente de Jaguar.
“O desenho tem uma coisa maravilhosa, tem um texto que diz o seguinte: ‘deixar a bebida é fácil, difíicl é lembrar onde deixou”, conta Vergara.
O cartunista Chico Caruso definiu o amigo como “companheiro sensacional”.
“O desenho dele mesmo, ele expressava o que ele era e o desenho mostrava isso. Não tem como a gente não rir dos desenhos do Jaguar e não tinha como não rir com ele. Um companheiro sensacional e uma perda inestimável”, desabafa.
O humorista Marcelo Madureira na despedida do cartunista Jaguar
Reprodução/TV Globo
Jaguar morreu neste domingo (24) no Rio de Janeiro. O cartunista estava internado no hospital Copa D’Or, com infecção respiratória, que evoluiu para complicações renais.
Ainda segundo a unidade de saúde, nos últimos dias, ele estava sob cuidados paliativos.
Jaguar ficou conhecido por suas charges cheias de humor, sátiras e provocações, que marcaram a luta contra a ditadura. Considerado um dos principais cartunistas do país, ele trabalhou até o mês passado e deixou um legado enorme.
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Autorretrato de Jaguar
Reprodução/TV Globo
Autorretrato de Jaguar
Reprodução/TV Globo
Trajetória
Jaguar nasceu em 29 de fevereiro de 1932 no Rio de Janeiro, mas passou sua infância e parte da adolescência dividido entre as cidades de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e Santos, em São Paulo.
Já de volta ao Rio, o cartunista começou a carreira desenhando na revista Manchete em 1952, aos 20 anos. Na época, ele trabalhava no Banco do Brasil, de onde só sairia nos anos 70.
Nos anos 1960, assumiu o pseudônimo que o acompanharia durante a vida profissional, após sugestão do colega desenhista Borjalo.
Cartunista Jaguar
Reprodução
O cartunista foi um dos criadores do jornal satírico O Pasquim, em 1969, com conteúdo ácido e crítico à ditadura militar vigente no Brasil.
Naquele período, lançou um de seus personagens mais conhecidos, o ratinho Sig, que também foi mascote do Pasquim.
O cartunista foi preso durante a ditadura militar, após publicar uma charge em que fazia uma montagem do quadro “Independência ou morte”, em que Jaguar colocou a frase “Eu quero é mocotó” em um balão de diálogo.
“Eu fiz esse negócio e foi um deus-nos-acuda, rapaz! Eu tava viajando, na minha casa de pescador lá em Arraial do Cabo. Quando voltei, me aconselharam. ‘Se esconda Jaguar, tá todo mundo preso!'”, relatou em entrevista ao portal da ABI, em 2009. Jaguar se entregou e ficou preso por dois meses.
Nos anos 2000, foi indenizado pela comissão de Anistia devido à perseguição política ocorrida no período.
Plim Plim: Jaguar
Durante sua carreira, Jaguar trabalhou com nomes como Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil e outros mestres das artes gráficas.
Além de criar o Pasquim, Jaguar também contribuiu com diversas revistas: Senhor, Civilização Brasileira, Pif-Paf e jornais como A Última Hora, Tribuna da Imprensa e O Dia.
Jaguar ainda lançou livros como “Átila, você é Bárbaro” em 1968, e “Ipanema, se não me falha a memória”, em 2000.
O primeiro foi um sucesso que marcou chargistas e cartunistas por gerações pelo traço e pela ironia do texto de Jaguar.
Na TV Globo, Jaguar fez animações para as vinhetas do Plim Plim, que marcaram época na TV brasileira.
Cartunista Jaguar, em foto de 2018
g1 Rio
Cartunistas e fãs lamentam a morte de Jaguar
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