
Ex-maquinista transforma madeira em réplicas de galeões e barcos no interior de SP
Entre madeiras, velas e miniaturas de canhões, Adalberto Ifanger, de 86 anos, transforma o silêncio da aposentadoria em arte. Ex-maquinista da Estrada de Ferro Sorocabana, ele dedica o dia a construir réplicas de galeões, jangadas, barcos e até um tanque de guerra, que encantam visitantes pela riqueza de detalhes.
“Faço por amor. É um jeito de reviver a carpintaria, meu primeiro ofício, e de manter viva a história desses transportes, que foram os primeiros a unir povos e culturas”, diz.
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Adalberto Ifanger, ex-maquinista, produz réplicas de galeões e barcos em madeira
Adalberto Ifanger/Arquivo pessoal
Nascido em Capivari (SP) em 26 de dezembro de 1938, filho de José Ifanger Sobrinho e Julieta Rossignatti, Adalberto chegou aos seis anos a Itapetininga (SP), onde viveu por cerca de 40 anos e onde seus filhos ainda moram.
Hoje, reside em Araçoiaba da Serra (SP), na Região Metropolitana de Sorocaba, mas se considera cidadão itapetiningano. Descendente de suíços, ele também mantém ligação afetiva com o bairro Helvétia, em Indaiatuba (SP), de colonização helvética.
Aposentado desde 1985 como maquinista — função que exerceu por 25 anos —, o artesão aproveitou sobras de madeira da carpintaria para iniciar as réplicas. As peças variam de 10 a 80 centímetros de comprimento e, em média, levam dois meses para ficarem prontas quando ele trabalha todos os dias. Já são mais de 60 obras concluídas. Um dos xodós é um navio de estilo inglês com 36 canhões.
Além da confecção manual, Adalberto também se dedica ao planejamento das embarcações. Nas imagens enviadas ao g1, ele mostra como inicia o processo e organiza cada detalhe antes de transformar a madeira em réplica. Assista ao vídeo.
Réplica de galeão com 36 canhões, criada pelo artesão Adalberto Ifanger
Acervo/Museu Carlos Ayres
O que são galeões?
Os galeões foram grandes navios usados entre os séculos XVI e XVIII por países como Espanha e Inglaterra. Tinham múltiplos conveses, velas imponentes e dezenas de canhões, sendo considerados verdadeiras fortalezas flutuantes.
Serviam tanto para transporte de riquezas quanto para batalhas navais, e ficaram famosos na época das grandes navegações e conquistas marítimas.
É justamente esse simbolismo histórico que Adalberto busca trazer em suas réplicas, mostrando como a engenharia naval marcou a expansão de povos e culturas.
Exposições e reconhecimento
As obras podem ser vistas em diferentes espaços culturais do interior paulista. Em Itapetininga, dois locais concentram parte do acervo: a Casa Kennedy e o Museu Ferroviário.
Na Casa Kennedy – Centro Cultural Brasil – Estados Unidos, duas peças chamam a atenção: um galeão espanhol e um barco a remo. “A arte serve para registrar costumes de uma época, e esse é o papel de um museu: preservar a história”, afirma Walkiria Paunovic, presidente da instituição.
Barco a remo, criado pelo artesão Adalberto Ifanger, em exposição na Casa Kennedy, em Itapetininga (SP)
Acervo/Museu Carlos Ayres
No Museu Ferroviário de Itapetininga, 25 criações de Adalberto integram o acervo — entre barcos, jangadas, aviões e até um tanque de guerra.
“É um orgulho ter trabalhos como o do Adalberto conosco, porque, além de artista, ele é ferroviário. A história dele agrega muito à memória que o museu preserva”, diz Carlos Eduardo dos Santos, fundador do espaço.
Lá também está exposta a carteira funcional da Estrada de Ferro Sorocabana, datada de 4 de julho de 1964, com os registros do então maquinista.
Segundo Adalberto, centenas de pessoas já visitaram as mostras. “Fico muito contente com a aceitação, principalmente em Itapetininga”, afirma.
Peças artesanais de Adalberto Ifanger, incluindo barcos e jangadas, em exposição no Museu Ferroviário de Itapetininga (SP)
Ramos Junior/g1
Carteira funcional de Adalberto Ifanger, quando trabalhava como maquinista da Estrada de Ferro Sorocabana, em exposição no Museu Ferroviário de Itapetininga (SP)
Ramos Junior/g1
Por que barcos?
Para o artesão, as embarcações “foram os primeiros meios de transporte”, essenciais para o comércio, a cultura e as explorações.
A cada obra, ele procura recriar técnicas e formas de diferentes períodos — de galeões espanhóis e ingleses a embarcações que remetem ao universo viking —, resgatando capítulos da engenharia náutica.
O Museu Ferroviário de Itapetininga fica na Rua Padre Albuquerque, 1.150, no Centro. Funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h. Já a Casa Kennedy – Centro Cultural Brasil – Estados Unidos está localizada na Rua Prudente de Moraes, 716, no Centro, e abre de segunda a sexta, das 14h às 17h.
Réplica de embarcação viking criada por Adalberto Ifanger, em exposição no Museu Ferroviário de Itapetininga (SP)
Ramos Junior/g1
Diversas réplicas de embarcações criadas por Adalberto Ifanger estão em exposição no Museu Ferroviário de Itapetininga (SP)
Ramos Junior/g1
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